quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA BENEDITINA PARA A IGREJA

INSTITUTO ANGLICANO DE ESTUDOS TEOLÓGICOS


(c) JORGE DE FRANÇA SOUZA






A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA BENEDITINA PARA A IGREJA


Trabalho de aproveitamento do 5º semestre do curso de formação do Instituto Anglicano de Estudos Teológicos – IAET-SP


2009 - São Paulo
BENTO DE NÚRSIA
Segundo seus biógrafos, Bento de Núrsia nasceu no ano 480 a.D na região dos Sabinos, Itália antiga, em Núrcia, hoje província de Perusa. Seu pai pertencia à tradicional família de Anício, que deu à pátria numerosos cônsules e imperadores. Por parte de sua mãe era o filho caçula dos senhores de Núrcia.
Dispondo de recursos abundantes, enviaram-no, ainda menino a cidade de Roma para adquirir conhecimentos. Durante os sete anos que lá permaneceu obteve progresso notável nos estudos, tanto para pressentirem que, se continuasse, tornar-se-ia um dos mais destacados homens de seu tempo.
Na adolescência, sendo um jovem de bom caráter, sente-se incomodado com o ambiente decadente da cidade de Roma e percebe que isto induz os jovens à orgia, vícios e corrupção. Ele percebe que o convívio o prejudica e entre as ciências humanas, nas quais se projetava, e a preservação dos costumes, prefere permanecer fiel à pureza de vida cristã, recebida desde o berço. E assim deixa a cidade.
Sua ama de leite, de nome Cirila, amava-o ternamente e não o abandona. Na vila de Enfide, para onde se dirigiram, faz o primeiro milagre, do qual o conhecimento chegou até nós. Essa senhora pegou emprestado da pobre gente do lugar, um utensílio de barro, provavelmente para cozinhar, e ao usá-lo quebrou-o. Bento reuniu os pedaços e restabeleceu-o, por sua prece, no mesmo estado que era antes. A notícia espalhou-se velozmente e logo olhavam o rapaz como um santo.
Este fato constituiu motivo decisivo para ele retirar-se secretamente dos que haviam assistido ao prodígio , inclusive sua ama.
A fonte da maioria dos acontecimentos da sua vida são os Diálogos de São Gregório Magno, que baseou-se em fatos narrados por monges que o conheceram pessoalmente. Aos vinte anos retirou-se para Subiaco para viver como eremita e dedicar-se a oração. Sua fama de santidade era tão grande que logo foi convidado a dirigir pequenas comunidades monásticas da vizinhança. Sua disciplina rígida gerou insatisfações, ocasionando tentativas de envenenamento. Desgostoso mudou-se para monte cassino, onde criou uma grande família monástica e foi ali que redigiu sua famosa regra que melhorava as experiências anteriores(a regra do Mestre Agostinho).
REGRA
A Regra de São Bento, definida no ano 534 determinava que, os monges tinham que viver em comunidade nos mosteiros, fazer votos de pobreza, fazer votos de castidade e obediência ao abade, que eles próprios tinham a incumbência de eleger. Tinha que dedicar o tempo à oração e ao trabalho seja ele de caráter agrícola, artesanal, cultural ou educativo (hospedar peregrinos e viajantes) ocupar-se com os pobres e o ensino. Ela consta de 73 artigos e um prólogo.
A ordem Beneditina deu ao monasticismo ocidental uma forma definitiva. Todas as outras ordens monásticas que surgiram no Ocidente basearam-se na Regra de São Bento. Os mosteiros tornaram-se verdadeiros pólos culturais na Idade Média. Suas bibliotecas preservavam obras de escritores da Antigüidade Grega e Romana.
Ao lado de cada mosteiro, geralmente havia uma escola, que atendia a população pobre da região. Em geral, os freqüentadores acabavam se convertendo ao cristianismo.
Vale ressaltar e destacar, a execução, dentro dos mosteiros medievais, do rígido e minucioso trabalho dos monges copistas que acabou por preservar o saber greco-romano. Entretanto, mais que preservar, esse trabalho deu forma e conteúdo ao pensamento religioso que dominou todo o período medieval.
Um fator importante da Regra de São Bento é a sua humanidade por ser moderada, simples, sensível, sem rigor aos extremos. Ao mesmo tempo em que incentiva os monges a uma vida santa, enfatiza a importância da estabilidade, ou seja, a permanência num mesmo mosteiro e da necessidade de aceitar as limitações impostas pela vida em comunidade assim como a aceitação com paciência as fraquezas físicas ou de condutas dos irmãos. São incentivados a se ajudarem mutuamente no seguimento dos caminhos do Senhor assim como a receber sempre o estranho que chegava às portas dos mosteiros, pois ela é um caminho de vida cristã no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A vida comunitária é vista como uma ordenada sucessão de oração, atividade e reflexão.
A Regra estabelece primeiro, o ''OPUS DEI'', no qual os monges, em comunidade, celebram sete vezes ao dia, o Ofício Diário composto de salmos, hinos, antífonas, responsórios e leituras bíblicas.
O modelo espalhou-se por toda Europa, e embora sofresse adaptações e desenvolvimentos durante os séculos, converteu-se, por mais de mil anos, em norma para toda a Igreja Ocidental.
Enfatiza, em segundo lugar, a 'LECTIO DIVINA'', na qual os irmãos refletem sobre textos bíblicos, os escritos dos Santos Pais e Mestres da espiritualidade, para que, num tranqüilo processo de absorção, baseado na verdade da Palavra de Deus, nutrir suas inteligências e moldar um temperamento reflexivo e contemplativo de devoção.
Em terceiro lugar, estabelece-se o ''LABOR'', que assegura, para as pequenas comunidades monásticas, a auto-sustentabilidade social, espiritual e econômica. O ritmo de trabalho e oração oferecia uma espiritualidade integrada e equilibrada. Deus era glorificado tanto pelo uso e mordomia da criação quanto na articulação do louvor na Igreja.
BENEDITINOS NO CONTINENTE AMERICANO
Os Beneditinos aportaram definitivamente no Brasil em 1581 onde fundaram a Abadia de São Sebastião na cidade de Salvador, sendo esta o primeiro Cenóbio no continente americano. A seguir foram fundada outras abadias em outros estados assim como pequenos mosteiros no Século XVII.
Em São Paulo, os monges beneditinos chegaram em 1598. A Companhia de Jesus e a Ordem do Carmo eram as únicas ordens religiosas em São Paulo.
Fr. Mauro Teixeira foi o primeiro beneditino a chegar a cidade de São Paulo. Natural da cidade de São Vicente, foi discípulo direto do jesuíta Pe. José de Anchieta. Após a morte de seus familiares pelos índios tamoios, num ritual de canibalismo, Fr. Mauro entrou no Mosteiro de São Bento da Bahia.Terminada a sua formação monástica, o Padre Provincial Fr. Clemente das Chagas o envia à São Paulo, onde funda uma pequena ermida, núcleo inicial da presença dos beneditinos na cidade. Logo em seguida, vem o Pe. Fr. Mateus da Ascensão, edificar um mosteiro e formar o primeiro núcleo comunitário.
Assim que ele chegou, a Câmara Municipal doou em 9 de maio de 1600, um pedaço de terra que situava-se "no lugar mais ilustre da vila, depois do Colégio da Companhia", em doação perpétua "até o fim do mundo". O local era onde se localizava a antiga taba do cacique Tibiriçá, "o glorioso índio que realizara a aproximação euro-americana e permitira o surto da civilização no planalto, salvando São Paulo da agressão tamoia de 1562", segundo as palavras do historiador Taunay.
Somente em 1634, as obras terminaram e assim constituída a Abadia. A capela fora dedicada a São Bento. Posteriormente, a pedido do Governador da Capitania de São Vicente, D. Francisco de Sousa, grande benemérito dos beneditinos, foi mudado o patrono da capela paulistana para Nossa Senhora de Montserrat. E, 100 anos depois, em 1720, a capela passou a chamar-se de Nossa Senhora da Assunção, título que se conserva até hoje.
No Capítulo Geral de 14 de maio de 1635, o primeiro Visitador da Província, o espanhol Fr. Álvaro Carvajal foi eleito o primeiro Abade de São Paulo.
CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÉPOCA
Entre os séculos V e VI o mundo estava envolvido por uma tremenda crise de valores e de instituições, causada pela queda do Império Romano, pela invasão dos novos povos chamados de bárbaros e pela decadência dos costumes. A cidade de Roma tornou-se um antro de perdição onde a ausência de ética e moral alinhava-se a corrupção política. Roma estava em decadência, a juventude era frívola e induzida à libertinagem, ao vício e à corrupção.
Com a apresentação de São Bento como "astro luminoso", Gregório queria indicar esta situação atormentada, precisamente aqui nesta cidade de Roma, a saída da "noite escura da história"1.
De fato, a obra do Santo e, de modo particular a sua Regra revelaram-se, portadoras de um autêntico fermento espiritual, que mudou no decorrer dos séculos, muito além dos confins da sua Pátria e do seu tempo, o rosto da Europa, suscitando depois da queda da unidade política criada pelo império romano uma nova unidade espiritual e cultural, a da fé cristã partilhada pelos povos do continente. Surgiu precisamente assim a realidade à qual nós chamamos "Europa".
São Gregório ilustra-nos como a vida de São Bento estivesse imersa numa atmosfera de oração, fundamento importante da sua existência.
Sem oração não há experiência de Deus. Mas a espiritualidade de Bento não era uma interioridade fora da realidade. Na agitação e na confusão do seu tempo, ele vivia sob o olhar de Deus e precisamente assim nunca perdeu de vista os deveres da vida quotidiana e o homem com as suas necessidades concretas.
IMPORTÂNCIA DE BENTO PARA A IGREJA
Bento foi chamado a esta experiência por causa da pureza de seu coração. Deus em sua magnitude já tinha planos para ele e quando chamado não resistiu, aceitou e doou-se mesmo sofrendo as tentações que tentavam afastá-lo do plano de Deus.
Em seus quase 1.500 anos de vida, os beneditinos acompanharam as vicissitudes da história da Igreja, com momentos de expansão, de decadência e de supressão e Renascimento.
Os valores da tradição monástica falam ainda hoje aos cristãos que são parte do mundo moderno. Reconhecemos a importância de uma vida litúrgica comunitária, de trazer perante Deus, em oração, o trabalho no qual estamos engajados e as necessidades das comunidades nas quais estamos inseridos, para que Deus as guie e abençoe, as redima e renove.
Os relacionamentos entre nosso trabalho e a vida litúrgica se concretizam no cuidadoso ordenamento das Intercessões e também na preparação de celebrações para marcar ocasiões e/ou necessidades especiais. Através desses vínculos aprendemos também a ver nosso trabalho e nossa vida de relação como meios para melhor servir a Deus e dar testemunho dele a uma sociedade secularizada.
Além da Igreja Católica, Bento é venerado pelas Igrejas Anglicana, Ortodoxa e Luterana. No caso da Igreja Anglicana, mesmo distante durante 300 anos após a reforma , a influência Beneditina perdurou fortemente na tradição do LOC(Livro de oração comum) anglicano, a ponto de poder afirmar-se com justiça que a espiritualidade anglicana está imbuída do espírito beneditino
IMPRESSÕES PESSOAIS
Conhecer a história de vida, exemplo e espiritualidade de São Bento de Núrsia foi emocionante e enriquecedora e com certeza será de grande importância para minha caminhada.
Penso que num mundo globalizado, excludente, pluralista e cheio de conflitos onde uma grande parcela da população mundial vive abaixo da linha da miséria, onde impera a corrupção global e o desvio de dinheiro público é fato, o aprendizado das regras de Bento seria de grande importância para esta sociedade corroída pelo mal e tão distante das bênçãos e o amor de Deus.
Há momentos em que relembro as notícias de minha cidade, Rio de Janeiro, bela por natureza, mas cuja população está inerte, entregue a própria sorte por causa da omissão do estado e da sociedade em si, que dorme em berço esplêndido e não se dá conta do que acontece a sua volta.
Em conseqüência disto, sinto uma imensa dor no coração ao saber que milhares de jovens são mortos todos os anos por causa da guerrilha urbana, fruto do confronto que existe entre traficantes por causa do tráfico de drogas.
Queira Deus que possamos compreender e lutar por esta realidade, tão nossa, mas sem esquecer jamais, da realidade eterna.
DICIONÁRIO
Ancoreta, vivia sozinho e afastado dos seus semelhantes.
Monges ou Cenobitas que habitavam o Mosteiro ou Cenóbio.


BIBLIOGRAFIA


Braga: Coleção “Os grandes em Imagem”- Bento de Núrsia – Pai do Monaquismo Ocidental; Editorial A.O. e Edições Loyola- SP.


Link: “ Mosteiro de São Bento-SP” - http://www.mosteiro.org.br/Historico/index.htm


Link: “Blog Oblatos de São Bento” - http://oblatosdesaobento.blogspot.com/2009/10/bento-escreve-sua-regra-monastica.html


Link: “Oblatos Anglicanos de São Bento” -http://www.dm.ieab.org.br/ministerios/04_ordens_beneditinos.html#Cena_1

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