domingo, 22 de maio de 2011

Os Sacramentos: Sinais do amor de Deus

POR IVAN VIEIRA



Os Sacramentos são sinais do amor de Deus pela humanidade. Nas palavras de Agostinho e Calvino, os Sacramentos são sinais visíveis da graça de Deus, forma de Deus se comunicar com a humanidade. São eles: Batismo, Confirmação, Eucarista, Confissão, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio. Os Sacramentos sempre fizeram parte da vida da Igreja, esses “Sinais” foram utilizados por Jesus na sua vida pública e pelos discípulos nas comunidades primitivas. A Igreja continuadora da missão de Jesus os chamou Sacramentos.

Sumário
1- Introdução
2- Desenvolvimento
2.1- Batismo
2.2- Eucaristia
2.3- Confirmação
2.4- Confissão
2.5- Unção dos Enfermos
2.6- Ordem
2.7- Matrimônio
3- Conclusão
4- Bibliografia

1 – Introdução

Os sacramentos são sinais do amor de Deus por nós. Nós, povo de Deus, temos a necessidade de sentir a presença de nosso Pai Amado. É como tornar visível cada gesto de carinho, de amor, de cuidado da parte de nosso Senhor.


Esse cuidado e vontade de querer proteger os seus, já foi expresso em praticamente todos os livros da Bíblia. Comumente, lemos comparações do amor de Deus ao da galinha que não deixa de proteger nenhum de seus pintinhos. Não obstante, vemos a grandeza do Deus apaixonado que quer libertar seu povo da opressão, do pecado, que quer tirá-lo de todo o sistema de escravidão para adorá-lo e render-lhe graça. É como nos diz o salmista, que nosso Deus é um Deus ciumento.


O povo de Deus, apesar de todos os sinais que viveram no Egito. Todas as pragas lançadas contra o faraó e o povo egípcio para que fugissem da escravidão; a passagem pelo mar vermelho, após Moisés ter invocado a força do Altíssimo através de seu cajado; ter mandado o maná caído do céu para saciar a a sua fome. Continuava vacilando, chegando ao ponto de confeccionar um bezerro de ouro enquanto Moisés subiu à montanha, para que adorassem, como se fosse um deus, ou a manifestação de um deus que eles queriam visualizar.


Salomão, no Antigo Testamento, manda construir um templo dedicado a Javé, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. No templo, o povo poderia adorar Javé, reverenciá-lo, oferecer oferendas, prestar culto. Além dos dois querubins, se encontrava também no templo a Arca da Aliança onde se guardava o Livro da lei de Deus.


Enfim, são acontecimentos, fatos, onde a presença do Deus invisível se faz revelar a seu povo para que possa mostrar toda sua grandeza e benevolência para com seus amados.


Gesto maior ainda foi a sua encarnação no meio de nós. Um Deus apaixonado pelos seus, que sentiu que era necessário, uma vez por todas, mostrar toda a sua benignidade, nascendo do ventre de uma mulher para salvar a humanidade.


Assim como anunciavam os profetas de Deus, principalmente Isaías que pedia ao povo para preparar o caminho do Senhor, porque o Messias de Deus viria salvar seu povo e resgatá-lo daquela situação de isolamento e tristeza por qual passava.


Nascido de mulher, Maria, uma mulher do povo; Deus nasce como menino Jesus, o Emanuel, Deus conosco. Cresce e quando adulto inicia sua vida pública com o batismo administrado por João Batista, seu precursor.


Esse Gesto de Jesus vai ser o sinal de que todo aquele que aderir ao seguimento de Cristo deverá ser batizado nas águas, lavar todas as suas manchas pelo arrependimento dos pecados. Desta forma aconteceu com os neo-convertidos que eram batizados para inserir-se também nas comunidades primitivas.


Após a vida pública em que Jesus anunciou o Reino de Deus e proclamou bem aventurados os que sofrem, os que choram, os que padecem, os que são caluniados, perseguidos e injustiçados; Jesus é levado ao Gólgota onde é crucificado. Cumpriram-se as Sagradas Escrituras e o Cordeiro foi imolado para a salvação de todos.


Após o terceiro dia, um fato marca a vida dos discípulos de Jesus. Ele ressuscita dos mortos, deseja a paz, a mesma paz que os seus devem levar para toda a humanidade. O Mestre diz que ele deve voltar para o Pai, mas que enviará sobre eles o Consolador que vai vivificar a todos.


O Espírito Santo, Consolador, desce sobre os apóstolos como línguas de fogo, barulhos como de trovão. O Novo testamento enfatiza com uma linguagem sinestésica, que podemos até imaginar como tudo aconteceu.


A partir daí, os discípulos se colocam a anunciar o Evangelho. O medo foi superado pela força do Espírito. Apesar das perseguições, continuaram evangelizando, convertendo novos adeptos ao cristianismo e desta forma comunidades eram criadas por toda parte.


Além do Batismo, que era o sacramento utilizado para inserir o convertido na comunidade cristã, era comum a Fração do Pão, repetindo o gesto de Jesus que durante a Páscoa judaica, diz ao repartir o pão e distribuir o vinho: “Isto é o meu corpo, este é o meu sangue... Façam isso em memória de mim”.


Conforme as comunidades cresciam, o número de convertidos multiplicava. As necessidades da comunidade em levar paz espiritual e pedir cura física pela oração e com óleo ungido, pedir perdão a Deus comunitariamente, de organizar as comunidades com seus presbíteros, diáconos e ministros, a necessidade de o casamento, considerado até então ato social, fosse amparado conforme a vontade de Deus. Fez com que a Igreja ao longo dos anos organizasse a vida ministerial da Igreja, administrando esses “momentos da vida” dos cristãos desde o seu nascimento até a sua morte.


Chamou-os sacramentos, e dessa forma a Igreja, através desses sinais visíveis de amor, de um Deus que permanece conosco, seja pelo pão e vinho, a unção com óleo etc. Faz-se presente na vida de seus membros, e o povo permanece unido ao Corpo de Cristo, onde Ele é a cabeça e nós os membros.


Proponho-me nestas páginas dissertar sobre os sacramentos, analisando cada um deles, sempre com embasamento histórico, teológico e prático na comunidade eclesial. São eles: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Confissão, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio.

2.1 – O Sacramento do Batismo

O Batismo é o fundamento de toda a vida cristã. Através dele nos tornamos cristãos, isto é, seguidores de Cristo. Somos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus. Assim somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão.


Jesus quis ser batizado por João Batista, caminhou até o Rio Jordão, e mesmo contrariando a vontade de seu precursor, “Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim?” Ele foi batizado e, logo que saiu das águas, o céu se abriu e o Espírito Santo de Deus desceu como uma pomba e pousou sobre ele. Ao mesmo tempo, uma voz vinda do céu dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual sinto toda a alegria” (Mt 3, 13-17).


Através desse gesto de procurar João a fim de ser batizado, ele o faz para que se cumpra a vontade do Pai. Desta forma ele, o Messias Salvador, se prepara para assumir seu papel diante dos homens e mulheres: anunciar o Reino de Deus presente entre nós e salvar-nos. “O Espírito do Senhor repousa sobre mim”. “Ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a liberdade aos cativos, e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos, e para anunciar um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 18-19).


Assim como Jesus, nós também, pelo batismo nos tornamos filhos de Deus e possuidores do Espírito Santo. Nós somos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Em nome da Trindade somos batizados, nos tornamos cristãos por que também assumimos a missão de anunciar o Evangelho e colaborar na construção do Reino de Deus entre os homens e mulheres.


“O Batismo é o mais belo e o mais magnífico dom de Deus. Chamamo-lo de dom, graça, unção, iluminação, veste de incorruptibilidade, banho de regeneração, selo, e tudo o que existe de mais precioso. Dom, porque é conferido àqueles que nada trazem; Graça, porque é dada até aos culpados; Batismo, porque o pecado é sepultado na água; Unção, porque é sagrado e régio (tais são os que são ungidos); iluminação, porque é luz resplandecente; Veste, porque cobre a nossa vergonha; Banho, porque lava; Selo, porque nos guarda e é o sinal do senhorio de Deus” ( São Gregório de Nazianzo ).


Jesus inicia a sua vida pública após ser batizado por João Batista no Jordão, e após sua ressurreição confere esta missão aos apóstolos: “Ide, pois fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28, 19-20).


Quando aconteceu o grande dia de Pentecostes, a Igreja celebrou e administrou o Santo Batismo. Vale lembrar que antes de acontecer essa revolução que reanimou e deu coragem aos apóstolos e toda comunidade cristã, os que haviam aderido ao seguimento de Jesus se encontravam escondidos, trancados, temendo a perseguição que se instalara aos cristãos logo após a crucifixão de Jesus.


Após a descida do Espírito Consolador, os apóstolos saem às ruas. Pedro declara a multidão: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão de vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2,38). Os apóstolos oferecem o Batismo a todo aquele que se converte e crê em Jesus: judeus, tementes a Deus e pagãos.


O Batismo não só nos purifica de todos os pecados, como também faz de todos os batizados “uma nova criatura” (2Cor 5,17), um filho adotivo de Deus que se tornou “ participante da natureza divina” (2 Pd 1,4), membro de Cristo e co-herdeiro com ele (Rm 8,17), templo do Espírito Santo (1 Cor 6,19).


Paulo escreve aos romanos convertidos dizendo que, “no Batismo, somos sepultados com Cristo em sua morte, e assim como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4). Por isso, no Batismo nós nos tornamos novas criaturas, somos libertos do pecado, somos enxertados no Corpo de Místico, somos iniciados na vida cristã e na comunidade onde congregamos, somos chamados a sermos outro Cristo. A missão é de toda a Igreja. Aquele que se converteu e é batizado deve também anunciar a boa nova e através de seus atos testemunhar os frutos da regeneração em Jesus Cristo.


De acordo com os escritos de Padres primitivos da Igreja, sabe-se que existiam várias formas de preparação para o rito da iniciação. Nos séculos III, IV e V essa preparação consistia em uma estrutura padrão chamada catecumenato. O catecumenato era uma preparação para as pessoas que se convertiam ao cristianismo e queriam integrar-se na comunidade cristã. Havia muita rigidez e as pessoas eram examinadas para dar provas de suas intenções e do modo de vida que levavam.


“O período do catecumenato encerrava-se na vigília da Páscoa, quando os candidatos eram batizados, ungidos com óleo com a bênção do Espírito santo e levados a participar da Eucaristia” ( Para entender os sacramentos – Mick Lawrence E. ).


A vigília da Páscoa era o momento certo para celebrar concretamente o Batismo, pois é a festa principal onde Cristo vence a morte e ressuscita e dessa forma os novos cristãos morriam para ressuscitar no Batismo. Toda a comunidade se regozijava com os novos cristãos e os acolhia como membros da comunidade.


Incorporados assim pelo Batismo, o batizado é configurado a Cristo. O sacramento do Batismo sela o cristão com um sinal espiritual indelével da sua pertença a Cristo. Nada pode apagar esta marca, nem mesmo o pecado. Dado uma vez por todas, o Batismo não pode ser reiterado.


À exemplo das comunidades primitivas, o sacramento do Batismo deve ser ministrado com muita responsabilidade. Requer preparação, orientação, diálogo com os batizandos, pais e padrinhos sobre a importância desse sacramento.


Para alguns o Batismo é um ato social, para outros é a porta de entrada para a fé cristã. Em todo caso, a preparação deve ser momento importante de evangelização, anunciar o Reino de Deus, e sobre tudo anunciar que temos um Deus tão maravilhoso, que se fez homem pra ficar bem pertinho de nós. Que foi fiel ao Pai, morreu pra nos salvar, mas ressuscitou para mostrar a grandeza de todo seu amor por nós.


2.2- O Sacramento da Confirmação.


O sacramento da Confirmação, juntamente com o Batismo e a Eucaristia constitui o conjunto dos sacramentos da iniciação cristã. São os sacramentos que dão sustentação a fé dos cristãos incorporados a Igreja. Uma comunidade que serve ao Senhor Deus e se coloca a continuar a missão evangelizadora precisa se apoiar nestes sinais para sustento da fé e revigoramento das forças para a caminhada.


Pelo sacramento da confirmação, os fiéis são vinculados mais perfeitamente à Igreja, enriquecidos de uma força especial do Espírito Santo são capazes, como testemunhas de Cristo, de difundir e defender o Evangelho do Senhor Jesus.


Este sacramento é visto como uma oprtunidade para aquelas pessoas batizadas quando crianças fazerem uma profissão de fé adulta, e para reafirmar os votos feitos em seu nome por testemunhas. É o momento também da pessoa já com um grau de maturidade na fé, de vontade livre assumir o compromisso da vida cristã em sua comunidade.


No Antigo Testamento os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor repousaria sobre o Messias que todos esperavam. Quando Jesus foi batizado por João Batista no Rio Jordão, essa confirmação de que ele era o Messias que devia vir, foi expressa de maneira contundente. O Espírito Santo de Deus desce sobre Jesus.


O Novo Testamento nos fala que Jesus inicia sua vida pública após ser batizado e pousado sobre ele o Espírito Santo. A partir desse momento Jesus é impelido a anunciar o Reino, a anunciar liberdade aos cativos, proclamar bem-aventurados todos aqueles que sofrem. É impulsionado pelo Espírito a iniciar a sua missão salvífica.


O Mestre experimenta a plenitude do Espírito Santo e essa plenitude deveria ser comunicada a todo povo messiânico. Ele promete aos seus apóstolos esta efusão do Espírito. Na Páscoa “Jesus disse de novo para eles: A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês. Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: Recebam o Espírito Santo” (Jo 20, 21-22). De maneira mais marcante em Pentecostes “de repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem” (At 2, 2-4).


A partir daquela experiência, repletos do Espírito Santo, os apóstolos saem das casas onde até então se escondiam, pois cristãos eram perseguidos. Fortificados por essa força sobrenatural, comunicam aos neo-convertidos, pela imposição das mãos, o dom do Espírito Santo que leva a graça do Batismo à sua consumação. “A imposição das mãos é reconhecida pela tradição católica como a origem do sacramento da Confirmação que perpetua, de certo modo, na Igreja, a graça de Pentecostes” ( Paulo VI, const. Ap. Divinae consortium naturae).


O que nós conhecemos hoje sobre sacramento da Confirmação era para as comunidades primitivas parte do sacramento do Batismo. Esse rito habitualmente era celebrado na Vigília Pascal. Os candidatos se dirigiam ao batistério que era situado na entrada da igreja. Pronunciavam a renúncia a Satanás e em seguida a adesão a Cristo. Logo após, se despiam completamente abandonando a antiga vida. O corpo inteiro era ungido, o que significava a preparação para a disputa decisiva contra o poder do mal.


Depois da bênção da fonte batismal, os batizandos entravam na água e eram imersos três vezes na água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ao sair da água, recebiam a veste branca. A seguir, voltavam para a assembléia, onde os bispos os aguardavam em companhia dos féis. Eram saudados com aclamações, ungidos com o óleo do crisma pelo bispo e saudados com o ósculo da paz. Agora como membros, participavam plenamente da celebração da Eucaristia da Páscoa. Essa unção pelo bispo depois da imersão batismal é a origem antiga daquilo que conhecemos como Confirmação (fonte: Mick Lawrence E. – Para entender os sacramentos. Ed. Loyola).


A unção mencionada era uma breve parte de um rito bem mais longo. A diferença era que enquanto o batismo era realizado pelo presbítero ou pelo diácono, a unção era feita pelo bispo. Foi essa particularidade que tornou esse rito distinto do Batismo.


No ano de 412, o papa Inocêncio I, determinou que a unção do crisma fosse reservada ao bispo e, assim, a confirmação foi separada do ritual do Batismo. È a primeira vez que esse rito é chamado de “Confirmação” para significar o rito pelo qual o bispo confirmava o Batismo administrado anteriormente pelo presbítero.


Com o passar do tempo a Igreja foi adiando a cada dia a idade para se receber este sacramento. Por isso passou a se chamar sacramento da maturidade cristã. Desta forma acreditava-se que os candidatos mais “maduros” tinham condições de assumir conscientemente o batismo recebido quando criança.


O catecismo de São Cirilo de Jerusalém dizia assim aos seus fiés: “Batizados em Cristo e revestidos dele, vocês se tornaram como o Filho de Deus. De fato, Deus, que os predestinou a serem seus filhos, criou-os semelhantes ao corpo de glória de Cristo... Com todo o direito vocês são chamados “cristos” quando receberam o sacramento do Espírito Santo. E tudo isto foi realizado simbolicamente, porque vocês são imagens do Cristo, após se ter banhado no Jordão... saiu do Jordão enquanto o Espírito Santo descia sobre ele... Também vocês, quando foram batizados, receberam a unção, sinal daquela com que Cristo foi ungido. Em outras palavras, vocês receberam o Espírito Santo que ungiu o Senhor”.


A pessoa que é confirmada na fé participa da mesma e única missão de Cristo. Como nos disse São Cirilo, ele também é ungido, torna-se como Cristo-Messias. Por isso “O Batismo e a Confirmação incorporam o homem a Cristo e o fazem membro da Igreja. Por isso ele participa, a seu modo, da missão sacerdotal, profética e real de Cristo” (Vat. II, Lumem Gentium, 4).


Todos aqueles que são preparados para receber o sacramento da Confirmação devem, assim como para o Batismo, receber instruções e orientações para receber esse sacramento tão importante para a vida da Igreja.


No Livro de Oração Comum: “Ó Deus Onipotente, que nós, redimidos da vida antiga por nosso Batismo na morte e na ressurreição de Jesus Cristo, sejamos renovados no teu Espírito Santo, para que vivamos na justiça e verdadeira santidade”.


O confirmado deve falar a linguagem do amor. Deve fazer valer os dons recebidos pela unção do Espírito Santo e colocá-los a serviço da comunidade. Quando nós preparamos bem aqueles que vão receber os sacramentos em nossa comunidade, sabemos que vamos colher os frutos da evangelização. Teremos uma comunidade mais compromissada com os valores do Evangelho, mais viva, alegre e que descobriu a importância de celebrar o Deus de Jesus Cristo e que agradecer pelas dádivas recebidas, todos os dias, dos céus.


2.3- O Sacramento da Eucaristia.

A refeição é na vida familiar o momento importante onde todos se encontram ao redor da mesa para comer. É o momento em que a família troca experiências sobre a vida. Comer juntos significa partilhar as alegrias, as tristezas, os projetos...


A refeição pode ser também momento de encontro entre amigos. Quando convidamos alguém para almoçar ou jantar conosco é sinal de hospitalidade e amizade.


Jesus instituiu o sacramento da Eucaristia dentro de uma refeição. Ele não só ofereceu alimento aos discípulos, mas deu-se verdadeiramente como comida e bebida sagrada. “Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, tendo pronunciado a bênção, o partiu, distribuiu a eles, e disse: Tomem, isto é o meu corpo. Em seguida, tomou o cálice agradeceu e deu a eles. E todos eles beberam. E Jesus lhes disse: Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos. Eu garanto a vocês: nunca mais bebereis do fruto da videira, até o dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus” ( Mc 14, 22-25 ).


Este momento tão importante para os discípulos e todo povo de Deus, aconteceu durante a última páscoa judaica. A cerimônia da páscoa judaica tinha 4 partes:


1) Bênção da festa e do 1º cálice de vinho; purificação; comer ervas amargas.


2) Sermão do pai de família, explicando a festa; cantos dos salmos; 2º cálice de vinho.


3) Purificação; benção do pão; comer o cordeiro pascal; 3º cálice de vinho, chamado “o cálice da bênção”.


4) Canto dos Salmos e 4º cálice.


O pão para o povo de Israel tem um significado muito importante. Para eles comer pão significa almoçar. Quando nós falamos que alguém não tem o pão na sua mesa, é a mesma coisa que dizermos que ela não tem comida, não tem nada.


Os hebreus na Páscoa comiam pão sem fermento, oferecem pão a Deus, em sinal de agradecimento pelos frutos da terra (Levítico 2). Lembramos o povo de Deus caminhando pelo deserto sob o comando de Moisés, deixando o Egito rumo a terra prometida. Deus lhes mandava o maná descido do céu, uma espécie de pão ( Êxodo 16, 9-27 ). O profeta Elias, após ter acabado com a idolatria em Israel é perseguido e foge para o deserto. Lá, cansado e desanimado, quer morrer, mas Deus o alimenta com o pão que revigora suas forças para continuar sua missão ( 1 Reis 19, 1-8 ).


O vinho é sinal de vida e de alegria, sinal da aliança de Deus com os homens (Êxodo 29,40). A vinha, árvore que produz a uva, fruta usada para se fazer o vinho, simboliza o povo de Israel. Em algumas passagens bíblicas é usada a figura do agricultor que cuida com muito carinho e zelo de sua vinha. Deus é o agricultor e a vinha o povo de Israel (1 Reis 21, 1-16; Isaías 5, 1-7).


Jesus durante a ceia com seus apóstolos abençoa o vinho, declarando-o seu sangue, o sangue da nova e eterna aliança (Mt 26, 27-29; Mc 14, 24-25; Lc 22, 20; 1Cor. 11, 25). O pão e o vinho oferecidos e consagrados por Jesus são o Corpo e o Sangue de Jesus.


Este sacramento de unidade dos cristãos recebe diversos nomes. Cada uma destas designações evoca alguns de seus aspectos. Ele é chamado: Eucaristia, porque é ação de graças a Deus; Ceia do Senhor, pois se trata da ceia que o Senhor fez com seus discípulos na véspera da sua paixão, e da antecipação da ceia das bodas do Cordeiro na Jerusalém celeste; Fração do pão, próprio da refeição judaica, foi como Jesus fez na última ceia, abençoava e distribuía o pão. Através da fração do pão que os discípulos o reconheceram após a ressurreição. Era o nome utilizado pelos primeiros cristãos para designar suas assembléias eucarísticas. Comunhão, porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos torna participantes do seu Corpo e do seu Sangue para formarmos um só corpo; Santa Missa, porque a liturgia na qual se realizou o mistério da salvação termina com o envio dos fiéis (missio) para que cumpram a vontade de Deus na sua vida cotidiana.


Quando Jesus celebrou a Última Ceia com seus apóstolos, o que ocorreu durante a Páscoa Judaica, ele dá o sentido definitivo a essa festa. Assim como a Páscoa Judaica celebrava a passagem do povo de Deus da escravidão do Egito para a terra prometida, o sentido que Jesus dá a esse momento, a Páscoa Nova, é a passagem dele, Filho de Deus, pela Morte e Ressurreição que é antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia, antecipa a passagem final da Igreja na glória do Reino.


“A Eucaristia é uma ação que vincula tanto o visível quanto o invisível numa única ação. Ela toma coisas naturais e comuns, alimentos de nossa existência temporal, ganhos por nosso próprio trabalho a partir do mundo natural, tornando-as santas pelo ofertório com ação de graças a Deus; Ele as consagrará, mudando seu caráter substancial, traduzindo-as à Sua ordem, devolvendo-as a nós como comida verdadeira de nossa vida eterna” (Evelyn Underhill, The Winsdom of Evelyn Underhill, editado por John stobbart).


Quando celebramos a Santa Eucaristia, rememoramos a paixão e morte e este sacramento nos impulsiona a esperarmos pela vinda gloriosa de Jesus Cristo. Não podemos celebrar a Santa Eucaristia se ainda não temos claro em nossa mente a grandeza, o significado e a dimensão desse ato universal de amor.


Como conceber a idéia de um Deus que experimenta a realidade humana? Que nasce, que sofre, que chora, que experimenta o sentimento de abandono, que é tentado, que anseia partilhar o pão com os necessitados? Este é o nosso Deus. O Deus de Abraão, Isaque e Jacó. O Deus da Bíblia, o Deus que tem olhos de pai e braços de mãe.


Através da Eucaristia permanecemos em comunhão com nossos irmãos que ouviram o apelo de Cristo. O próprio Jesus nos convida, assim como convidou os seus discípulos, a nos assentarmos também ao redor da mesa, para comermos e bebermos o mesmo alimento, seu corpo e seu sangue.


Carlos Eduardo Calvani nos diz que “se nossa eucaristia não suscita a certeza da comunhão “com Cristo” e não nos insere numa prática efetiva de comunhão “em Cristo”, é sinal de que ainda não interiorizamos suficientemente seu mistério. Se participamos dominicalmente da eucaristia, mas nossa vida não muda e a vida comunidade também não, cabe perguntar se o que celebramos é, de fato, a Ceia do Senhor ou uma deturpação fast-food” (in Revista Inclusividade nº 14).


Aproximemo-nos então para celebrarmos o Cristo que veio e que virá. Aproximemo-nos para agradecer o dom da vida, para agradecer a salvação que nos trouxe o Cristo imolado, para rendermos graças e esperarmos o Cristo que votará triunfante.


2.4- Sacramento da Reconciliação.


O sacramento da Reconciliação ou Confissão dá ao fiel a possibilidade de, como mesmo significa a palavra, reconciliação com Deus e com a comunidade. Enquanto estamos ainda nessa “morada terrestre”, estamos sujeitos ao sofrimento, à doença e à morte. Estamos, portanto, sujeitos ao pecado e por causa de nossa natureza humana, propensos a tudo aquilo que nos afasta de Deus.


No Novo Testamento existem poucos dados sobre o sacramento da Penitência, embora seja claro que os discípulos receberam o poder de perdoar os pecados. Em João 20, 19-23: “Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro depois do sábado, os discípulos estavam reunidos com portas fechadas, por medo dos judeus. Então, Jesus entrou, ficou no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”! Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Quando os discípulos viram o Senhor ficaram cheios de alegria. Então, Jesus disse-lhes de novo: “A paz esteja convosco! “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”. Depois destas palavras, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. “Aquele a quem perdoardes os pecados serão perdoados; aqueles a quem retiverdes serão retidos”.


Jesus Cristo remiu os pecados do paralítico, da prostituta, restituiu-lhes não só a saúde do corpo como também da alma. Quis que a Igreja continuasse sua obra de cura e salvação, na força do Espírito Santo (Mc 2, 1-12). Esta é a finalidade do sacramento da penitência, curar a alma. Remir os batizados que por motivos peculiares se distanciaram da Palavra e pecaram.


Para alguns exegetas, a passagem onde Jesus confia aos discípulos a missão de perdoar, se refere ao Batismo e não à Penitência, já que para aderir ao ao grupo de Jesus, ou às comunidades cristãs, era necessário conversão, mudança de vida, ou seja, arrependimentos dos pecados, pois pelo batismo a vida passada dos cristãos era crucificada com Jesus na cruz e renascia nova criatura com sua ressurreição. “Nós, que morremos para o pecado, como haveríamos de viver ainda nele?... Sabendo que o nosso velho homem foi crucificado com Cristo para que fosse destruído este corpo de pecado, e assim não sirvamos mais ao pecado... Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus” (Romanos 6, 2-11).


Pelo texto acima, percebemos que os cristão tinham o Batismo como a principal celebração do perdão dos pecados na Igreja do Novo Testamento. E é notório que os cristãos não imaginavam a possibilidade de alguém que se converteu e deixou o homem-velho para trás, poderia experimentar o pecado novamente.


A comunidade cristã é constituída de homens e mulheres. Como humanos estamos propensos ao pecado. E, apesar de a graça de Deus, permanecer conosco, nos distanciarmos dos ensinamentos e caímos. Com o tempo, as comunidades tiveram que lidar com essa realidade. Daí a necessidade de uma reconversão. Sentiram a necessidade de passar por “um segundo Batismo”, nome dado ao rito penitencial que dava aos cristãos em estado de pecado, uma segunda oportunidade para remissão de seus pecados, e o seu retorno ao convívio da assembléia.


Durante todo processo de penitência os fiéis eram apoiados pela oração e pelo jejum do restante da comunidade e podiam ser guiados na caminhada espiritual pelo confessor ou diretor espiritual.


Quando o período de penitência chegava ao fim e a conversão era tida como satisfatórias, os penitentes eram acolhidos de volta à ordem dos fiéis com o rito da reconciliação.


“Cumpriu-se o tempo e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1,15). O apelo de Cristo à conversão não é feito somente àqueles que não conhecem Jesus e aderiram ao seu chamado, mas é um apelo à conversão contínua. Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que reúne em seu próprio seio os pecadores.


João nos diz: “Se dissermos: não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1,8). Em Lucas, o Senhor nos ensinou a rezar assim: “Perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11,4).


O cristão deve esforçar-se penitentemente para o perdão de suas faltas. Deve se colocar diante deste sacramento com o coração contrito (Sl 51,19), movido pela graça, certo de que essa atitude o leva a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro. Santo Ambrósio diz que na Igreja “existem a água e as lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da penitência”, se referindo a segunda conversão dos cristãos.


O pecado é antes de tudo uma ofensa a Deus, é uma ruptura da comunhão com ele. E se estamos em estado de pecado e não procuramos nos reconciliar com Deus, arrependidos do pecado, também estamos em ruptura com a comunhão da Igreja. Por isso, a conversão traz simultaneamente o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja ( Lumem Gentium 11).


Durante a Celebração Eucarística acontece o momento em que o presidente da celebração convida o povo reunido na assembléia a fazer um exame de consciência. É o ato penitencial onde a forma do Kyrie dá embasamento ao pedido de perdão pelos nossos pecados para celebramos a Eucaristia.


O cristão é convidado também de forma particular a aproximar-se do sacramento da Penitência, confessando diante do sacerdote os seus pecados. Este tipo de confissão resguardado pela Igreja Católica Romana, também é usado em algumas paróquias anglicanas que funciona, não só para a cura da alma, mas também há evidências de um efeito terapêutico, pois o penitente se sente perdoado após a absolvição do sacerdote com o sinal da cruz.


Se a água é o gesto sacramental do Batismo; da Confirmação é ungir com o óleo; da Reconciliação é traçar uma cruz sobre quem está se confessando. O sacerdote diz: “Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.


Quantos de nosso povo, na sua solidão, nos seus momentos de dores, não gostariam de ter alguém, um ungido de Deus para ouvir as súplicas de sua alma? Que em nossas comunidades possamos ter sensibilidade para reconhecermos em nosso povo a necessidade da confissão e da cura da alma

2.5- Sacramento da Unção dos Enfermos.


O sacramento da Unção dos Enfermos é o sacramento da esperança e da cura. Anos atrás, famílias só recorriam a este sacramento quando seu ente querido estava “nas últimas”. Era conhecido até então, como “Extrema Unção”. A presença do sacerdote para administrar este sacramento já significava que a família deveria preparar o caixão e o funeral.


O sacramento que traz alívio e conforto ao doente que precisa, além dos remédios para a cura física, que também precisa de uma palavra de conforto, de alguém que escute o que o ele tem para falar. Devemos sempre nos lembrar que o sacramento é dos doentes e não dos moribundos, por isso não é momento de desespero, mas de confiar aqueles que amamos à graça de Deus que cura e perdoa os pecados.


O Novo Testamento nos mostra que Jesus em sua vida pública realizava este ato, até então não reconhecido como sacramento, mas que ele sugeria a realização de tal procedimento aos doentes: “Expulsavam muitos demônios e curavam muitos doentes, ungindo-os com o óleo” (Mc 6, 13).


Outro relato importante é o de Tiago apóstolo: “Alguém de vós está enfermo? Mande chamar os presbíteros da Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o porá de pé; e se tiver cometido pecados, estes lhes serão perdoados” (Tg 5, 14-15). “A visão de São Tiago sobre a unção dos enfermos servirá de base bíblica para a formação de sua concepção de sacramento já que nesta passagem aparecem os três elementos que o compõem: a matéria, a forma e a intenção” ( Costa, Eduardo – Uma breve reflexão sobre a unção dos enfermos).


O óleo utilizado pelos cristãos para essa prática era de azeite. Nesse período o azeite era utilizado como combustível, na culinária e como medicamentos para lesões e ferimentos. O azeite isola o ferimento do contato com o ar, aliviando a dor e protegendo o ferimento contra possíveis infecções.


Na parábola do bom samaritano, percebemos que ele faz os primeiros socorros no homem que estava caída, atando as feridas utilizando azeite e um pouco de vinho (Lc 10, 34).


A Bíblia nos ensina que desde os tempos mais remotos, o óleo tinha um poder curativo, ou seja, servia de remédio. Por isso os cristãos conheciam as propriedades medicinais do azeite e, colocando sobre este material a oração e a fé, surge daí o início de uma prática que mais tarde se tornará o Sacramento da Unção dos Enfermos.


A unção dos enfermos é o sacramento da salvação total, do corpo, e do espírito, pois eles fazem parte de uma única realidade: o homem.


Alguns pensamentos dos Padres da Igreja sobre a Unção dos Enfermos:


“Porque não somente no tempo da conversão, mas depois também, eles têm autoridade para perdoar os pecados. Está alguém doente entre vós? Está dito que chame os mais velhos da Igreja, e que esses orem sobre ele, ungindo-o com o óleo em nome do Senhor. E a prece da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará: e se ele cometeu pecados, esses lhes serão perdoados” ( João Crisóstomo, sobre o Sacerdócio 3,6; 386 d.C).


“Este óleo... para boa graça e remissão dos pecados, para uma medicina de vida e salvação, para saúde e bem estar da alma, corpo, espírito, para a perfeita consolidação” (Serapião de Thuis, Anáfora 29,1; 350 d.C).


“Deve-se chamar um sacerdote que, pela prece da fé e a unção do santo óleo que comunica, salvará aquele que está doente, por causa de um grande ferimento ou por uma doença” ( Cassiodoro, Complicações; 570 d.C).


Na tradição anglicana, a Unção dos enfermos passou por diversas alterações. Não há um consenso sobre um rito único que seja utilizados em todas as partes do mundo. O rito em si só apareceu formalmente em um Livro de Oração Comum inglês em sua primeira edição.


Segundo Eduardo Costa em seu artigo da revista Inclusividade “Uma breve reflexão sobre a unção dos enfermos”: “ a unção com óleo propriamente dito segundo a rubrica deste “LOC” era feita na testa e em alguns casos no peito e ainda era utilizado no sentido de ser uma benção para uma pessoa agonizante”.


No Livro de Oração Comum de 1552 há uma clara intenção de avançar a religião britânica para uma tendência mais protestante, onde a unção com óleo é substituída com a imposição das mãos. A Unção dos enfermos então será compreendida como um “sacramento menor” e receberá em algumas províncias o nome de “Bênção da Saúde”.


No Livro de Oração Comum atual não existe um rito da Unção dos enfermos, alguns sacerdotes utilizam o rito dos LOCs anteriores, outros de tendência mais católica utilizam o rito romano.


Os sacramentos são sinais da presença de Deus na comunidade. Apesar de o sacramento da Unção ser aplicado de modo individual, todos nós fazemos parte do Corpo de Cristo. A participação de toda a comunidade é importante, seja com orações, ou acompanhamento junto ao sacerdote para aplicação do sacramento, ou posteriormente com visitas.


Em algumas comunidades há a pastoral da saúde, pessoas comprometidas com a Igreja que visitam os doentes da comunidade, seja nas suas casas, ou até mesmo nos hospitais. É repetir o gesto de Jesus que acolhe o cristão doente no seu maior momento de dor e sensibilidade.


A Pastoral da Saúde leva a Santa Comunhão àquelas pessoas que se encontram impossibilitadas de ir à Igreja para a Celebração Eucarística por motivos de doença, ou velhice. O Sacerdote também tem papel importante, leva ao que está doente o óleo para unção, a Palavra e o gesto concreto transformado em amor.


“A principal graça do sacramento da Unção dos Enfermos é uma graça de reconforto, de paz e de coragem para vencer as dificuldades próprias ao estado de enfermidade grave ou à fragilidade da velhice. Esta graça é um dom do Espírito Santo, leva o enfermo à cura da alma, mas também à do corpo” (Concílio de Florença: DS 1325).


Quando passamos a olhar a realidade do povo de Deus com olhos de teólogos ou de reformadores, perdemos a dimensão do sagrado. A mensagem de Jesus, simples e direta, era voltada para seu povo que ansiava por libertação. O óleo, a cura, o perdão, o “levanta-te e anda”... tudo se perde quando colocamos a razão em primeiro lugar.


Podemos celebrar a Unção dos Enfermos, não só individualmente, mas comunitariamente. Preparar uma liturgia voltada completamente para os doentes da nossa paróquia.


Dar uma atenção especial àquelas pessoas esquecidas, muitas vezes, pela sociedade e até mesmo por nós pastores. Dar a bênção da saúde e levar esperança a quem já desistiu de viver.


2..6- O Sacramento da Ordem.


No Novo Testamento estão os registros da vida pública de Jesus. Após o Batismo nas águas do Rio Jordão, Jesus se dá a conhecer através de seus gestos messiânicos, a dimensão do Reino de Deus, e o projeto que tinha para toda a humanidade.


Como vimos em O Sacramento do Batismo, João Batista batizava aqueles que se arrependiam de seus pecados e procuravam levar uma vida mais justa de acordo com as Sagradas Escrituras.


No gesto de Jesus de deixar ser batizado, ele mesmo, reconhecido pelo profeta percussor João, como o Cordeiro de Deus, inicia sua vida em meio ao povo, anunciando a boa nova do evangelho, após o batismo.


Leva-nos este gesto a entender o quanto este sacramento está ligado à missão e o chamado que todos nós temos. Seja como ministros ordenados, seja como ministro leigo, seja vocacionado à vida matrimonial, ou consagrado à vida cristã em sua comunidade.


Todas as pessoas pelo batismo são chamadas à salvação e para cada pessoa, em particular, Deus faz um chamado diferente, ou seja, cada ser humano tem uma vocação.


Pelo Batismo somos inseridos no Corpo de Cristo, estamos ligados à comunidade cristã onde nos reunimos para celebrar a Fração do Pão, onde bebemos da Palavra de Deus e nos fortalecemos para a nossa vida cotidiana, lugar onde testemunhamos o Cristo Ressuscitado e vivemos intensamente a nossa vocação.


Algumas pessoas, de maneira muito especial, são chamadas ao serviço total da Igreja, consagrando sua vida e seu tempo à causa do Povo de Deus. Deus chama essas pessoas, porque conhece a cada uma delas no seu interior. É como nos diz o profeta Jeremias que desde que se encontrava no ventre de sua mãe, Deus já o chamava pelo nome. Desde alí já estava traçada a vocação tão especial do profeta.


Paulo diz ao seu discípulo Timóteo: “Eu te exorto a reavivar o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos (2 Tm 3,1), e “ se alguém aspira ao episcopado, boa obra deseja” (1 Tm 3,1). A Tito diz ele: “Eu te deixei em Creta para cuidares da organização ao mesmo tempo para que constituas presbíteros em cada cidade, cada qual devendo ser como prescrevi” (Tm 1,5).


Essas pessoas consagradas para serem continuadores e ministros representantes de Deus recebem o sacramento da Ordem. Este sacramento tem três graus: diaconato, presbiterado e episcopado.


O Bispo é o pastor de uma diocese a que lhe foi confiada, recebe a plenitude do sacramento da ordem que o insere no Colégio episcopal. Unidos ao bispo na dignidade sacerdotal estão os padres, ou presbíteros. São chamados a cooperarem com o bispo no exercício de suas funções pastorais. Unidos aos bispos e seus presbíteros estão os diáconos, ordenados para as tarefas de serviço da Igreja. Não recebem o sacerdócio ministerial, mas a ordenação lhes confere funções importantes no ministério da Palavra, do culto divino, do governo pastoral e do serviço da caridade, tarefas que devem cumprir sob a autoridade pastoral de seu bispo. Os bispos são sucessores dos apóstolos; como os apóstolos tinham seus discípulos de evangelização, também os bispos têm ao seu redor os padres e diáconos.


O Novo Testamento atribui só a Cristo o título de sacerdote. Ele ofereceu o grande único sacrifício, entregou sua própria vida como oferta ao Pai, pela salvação da humanidade. Por isso quando o padre preside a Celebração Eucarística, oferece ao Pai o mesmo sacrifício de Jesus, o grande sacerdote e mediador, fazendo em memória de Jesus, o que se fez de uma vez por todas na cruz.


O apóstolo Pedro em sua carta nos diz que a comunidade cristã é “um sacerdócio santo, sacerdócio real” (1 Pedro 2, 5.9). Por isso acreditamos que, todos nós batizados, estamos unidos a Cristo sacerdote. O sacerdócio comum dos féis se realiza no desenvolvimento da graça batismal, vida de fé, de esperança e de caridade. Todos os batizados devem oferecer a Deus o universo inteiro como sacrifício de louvor.


Aqueles que receberam o sacramento da ordem, além de participar do sacerdócio comum dos fiéis, fazem parte do sacerdócio ministerial, e estão a serviço do sacerdócio comum, refere-se ao desenvolvimento da graça batismal de todos os cristãos. É um dos meios pelos quais Cristo não cessa de construir e de conduzir sua Igreja. Por isso é transmitido por um sacramento próprio, o sacramento da Ordem.


“No serviço eclesial do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente à sua Igreja enquanto Cabeça de seu Corpo, Pastor de seu rebanho, Sumo Sacerdote do sacrifício redentor, Mestre da Verdade. A Igreja o expressa dizendo que o sacerdote em virtude do sacramento da Ordem age “in persona Christi Capitis” (na pessoa de Cristo Cabeça) ( Lumem Gentium 10,28; Sacrossantum Comcilium 33 ).


Como acontece no caso do Batismo e da Confirmação, a participação na função de Cristo é concedida uma vez por todas. O sacramento da Ordem também confere um caráter espiritual indelével e não pode ser reiterado nem conferido temporariamente.


O sacerdote ministerial não só representa Cristo diante da assembléia dos fiéis, mas age também em nome de toda Igreja quando apresenta a Deus a oração da Igreja e, sobretudo quando rememora Cristo que se dá no altar.


O sacramento da Ordem é o sacramento ministério apostólico, portanto cabe aos bispos, como sucessores dos apóstolos, transmitir o “dom espiritual”, a semente apostólica”. Os bispos como estão na linha da sucessão apostólica conferem validamente os três graus do sacramento da ordem.


Segundo o Concílio de Trento: “alguém validamente ordenado pode, é claro, por motivos justos, ser destituído das obrigações e das funções ligadas à ordenação ou ser proibido de exercê-las, mas jamais poderá voltar a ser leigo no sentido estrito, porque o caráter impresso pela ordenação permanece para sempre. A vocação e a missão recebidas no dia de sua ordenação marcam a pessoa de modo permanente”.


O chamado ao serviço ministerial deve ser vivido com o mesmo amor que Cristo tem por sua Igreja. O ministro ordenado é chamador a dedicar sua vida ao anúncio do evangelho, a ouvir os apelos do povo, a elevar a Deus preces e fazer escutar as orações de um povo que sofre, que anseia por libertação, que espera encontrar na figura de um sacerdote, alguém em que elas confiam, que testemunhem verdadeiramente o Cristo e seja sinal de esperança para o povo.


2.7- O Sacramento do Matrimônio.


Deus criou homem e mulher para o amor, essa é a vocação fundamental e inata de todo ser humano ser humano. Porque como nos diz a Bíblia, homem e mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus Pai que é Amor. Este amor abençoado por Deus, como nos diz o Livro do Gênesis, é destinado a ser fecundo e realizar-se na obra comum de preservação da crizção.


Nas Sagradas Escrituras nós lemos que Deus ao criar o homem, viu que sua criação ainda não estava completa: “Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante” (Gn 2, 18). Nos relata a Bíblia que Deus fez o homem cair em sono profundo e da sua costela criou a mulher. Assim ele completa a sua criação: “Esta sim é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela se chamará mulher, porque foi tirada do homem!” (Gn 2, 23). “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Gn 2, 18-25).


Isto significa dizer que Deus criou homem e mulher para a felicidade, para realizarem o projeto de amor do Pai que também é Amor. Os livros de Rute e de Tobias dão testemunhos da importância docasamento, da fidelidade e da ternura dos esposos. O Livro dos Cânticos dos Cânticos demonstra na relação de amor de um homem para uma mulher, um reflexo do amor de Deus, amor “forte como a morte”, que “as águas da torrente jamais poderão apagar” (Ct 8, 6-7).


O povo de Israel após terem saído do Egito sob o comando de Moisés, é agraciado pelo Senhor por Deus com a Aliança eterna de amor, na qual o Filho de Deus, encarnando-se e entregando sua vida, uniu-se de certa maneira com toda humanidade salva por ele, preparando assim as “Nupcias do cordeiro” (Ap 19, 7-9).


Jesus na sua vida pública realiza seu primeiro milagre, a pedido de sua mãe, por ocasião de uma festa de casamento, conhecido como As Bodas de Caná.


Deus escolhe a aliança para falar de seu amor por seu povo. Através da aliança, Deus apaixonadamente assina um contrato de fidelidade com seu povo. Mesmo com toda queda e infidelidade de su povo, deus se mantém fiel à sua aliança.


As alianças que marido e mulher usam na mão são sinal de fidelidade um ao outro. Vivendo a fidelidade um para com o outro como foi prometido no rito do matrimônio, o casal dá provas de fidelidade ao Senhor. “Que o homem não separe o que Deus uniu” (Mateus 19, 1-9).


O apóstolo Paulo diz na carta aos Efésios: “E vós, maridos amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela a fim de purificá-la” (Ef 5, 25-26), e acrescenta: “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e se ligará a sua mulher, e serão ambos uma só carne. É grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e sua Igreja” (Ef 5, 31-32).


Geralmente nós ouvimos: “O padre fez o casamento”. Este comentário está errado, a pessoa não tem o entendimento necessário para saber que quem realiza o matrimônio não é o padre: são os noivos. Eles são o sujeito do matrimônio. O padre está ali representando a Igreja, dá a bênção em nome de Deus as promessas e os juramentos que os noivos fazem.


“Os primeiros cristãos viam a dimensão religiosa do matrimônio, mas não o celebravam na Igreja ou como ofício litúrgico. O matrimônio era celebrado de acordo com os costumes sociais da época; entretanto, os cristãos reconheciam que o matrimônio que eles praticavam, da mesma forma que tudo em sua vida, devia ser transformado pela graça a fim de ser vivido “ no Senhor”. O matrimônio não era sacramental pelo fato de iniciar na Igreja, mas refletia o amor de Cristo pela Igreja. E, como Cristo sempre é fiel, também o matrimônio era visto como um compromisso de fidelidade indissolúvel” ( Mick Lawrence E. Para Entender os Sacramentos ).


Mas, por vários motivos, essa aliança de compromisso é quebrada. Alguns casamentos não duram e outros duram de maneira precária. Há entre nós muitos casais que se separaram e que querem uma segunda chance para serem felizes numa nova aliança.


Poderíamos destacar aqui alguns motivos pelos quais o índice de divórcio tem subido. A mídia eletrônica dita modos, costumes através de sua programação, principalmente novelas, que colocam casais em situações de traição, ou de descoberta de um novo amor, ou até mesmo, pela saturação de um relacionamento que faliu. O espaço conquistado também pelas mulheres na sociedade, na economia e na política. Colocou a mulher em situação de independência financeira e a depender menos do marido.


Isso não quer dizer, que a mulher não tenha o direito de ter seu espaço na sociedade e liberdade para fazer valer os seus direitos. Aqui faço apenas uma constatação.


“Quanto àqueles que estão casados, não sou eu que ordeno, é o senhor: a mulher não se separe do marido! Se, porém, se separá, não se case de novo, ou reconcilie-se com o marido. E o marido não repudie sua esposa” (1 Cor 7, 10-11). “Que o homem não separe o que Deus uniu” (Mateus 19, 1-9).


São muitas as justificativas embasadas na Palavra para provar a indissolubilidade do matrimônio. Respaldados nisso, os católicos romanos dizem que o matrimônio não pode ser desfeito “ o amor conjugal dirige-se a uma unidade profundamente pessoal, aquela que, para além da união uma só carne, não conduz senão a um só coração e a uma só alma; ele exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca definitiva e abre-se à fecundidade” (Catecismo da Igreja Católica).


O Livro de Oração Comum diz que a finalidade exclusiva de uma relação conjugal, o Matrimônio, não é a procriação. Considera que em primeiro lugar está a edificação do casal, a ajuda mútua, o doar-se diariamente. Havendo possibilidade e condições para a procriação, o casal terá assim condições para criar seu filhos, educá-los e orientá-los segundo o conhecimento e o amor de Deus.


O sacramento do matrimônio sempre foi compreendido como sacramento permanete e único, para toda a vida. Como citei acima, alguns valores e padrões culturais passaram por transformações.


A Igreja Anglicana permite que pessoas divorciadas tenham uma nova oportunidade para refazer a sua vida conjugal. Não que a Igreja tenha deixado de acreditar neste sacramento como aliança de fidelidade, pelo contrário, no rito de matrimônio ainda acontecem as palavras e promessas de fidelidade.


Que a família, instituição abençoada por Deus. Igreja doméstica, pois é nela onde os pais ensinam e testemunham os valores cristãos, possa permanecer sempre fiéis aos desígnios de Deus.


Que a família não perca seu norte, e que nós sacerdotes, ou leigos engajados na comunidade, possamos apoiar, receber e amar todas as famílias de nossa comunidade. Que possamos dar uma atenção especial aos casais de segunda união, encorajando-os no amor e na caridade.

3- Conclusão


Os sacramentos, como vimos, são sinais do amor de Deus pela humanidade. São maneiras de Deus manifestar sua graça a todos os seus eleitos e reuní-los em comunidade para partilhar o pão e adorá-lo em espírito e verdade.


Através dos sacramentos Deus se comunica. No Catecismo de Genebra, de 1537, de João Calvino, a primeira pergunta que se faz, é se há outros meios senão a Palavra, para que Deus se comunique a nós, que tem como resposta: “Ele acrescenta os sacramentos à pregação de sua Palavra”.


Nesta confirmação de Calvino fica claro que ele considera os sacramentos como comunicação de Deus a nós, ao lado da Palavra. Podemos dizer que a Palavra de Deus e os Sacramentos são “meios de graça”.


A uma segunda pergunta do mesmo Catecismo de Genebra, Calvino afirma que um sacramento “é uma marca exterior da graça de Deus, por um sinal visível, nos representa coisas, por imprimir as promessas de Deus mais fortemente em nossos corações, e por nos tornar mais seguros delas”.


Notemos que as palavras de Calvino são bastante significativas “promessas de Deus” e “nossos corações”, indicando que os sacramentos são importantes para a vida dos cristãos. Calvino nas sua Institutas : “Concluimos, pois, que os sacramentos, verdadeiramente são chamados testemunhos da graça de Deus, e que são como selos da boa vontade que eles nos tem, os quais, ao selar-nos, sustentam, nutrem, confirmam e aumentam nossa fé”.


A teologia sacramental de Calvino não contraria o pensamento de Santo Agostinho. Agostinho ensinava que o sacramento é o sinal visível de uma coisa sagrada, ou a forma visível de uma graça invisível”.


Quis ressaltar nestas últimas considerações o pensamento de tal teólogo reformador, para dar embasamento ao tema tratado e concluido por mim como Sinais do Amor de Deus que anima e reune a comunidade.


Ressalto aqui a importância de celebrarmos os Sacramentos para mantermos o povo de Deus sempre unido à sua Igreja, nutrindo-se, não só da Palavra ou do Pão, mas também da manifestação dos demais sacramentos tratados com devida relevância que lhe cabe. Maiores, ou menores, eles fazem parte da vida da Igreja. Celebremos portanto os sacramentos, manifestemos o amor de Deus.


5- Bibliografia

Bíblia Sagrada Edição Pastoral – Edições Paulinas, São Paulo. 1990
Bíblia de Jerusalém – São Paulo. Edições Paulina. 1985
Mick, Lawrence E. – Para Entender os Sacramentos. Edições Loyola. 2008
V.V.A.A. Sacramentos. Inclusividade – Revista Teológica do Centro de Estudos Anglicanos – CEA. Abril 2007 – Nº 14.
V.V.A.A. Temas Atuais em Teologia Anglicana I. Inclusividade – Revista Teológica do Centro de Estudos Anglicanos – CEA. Novembro 2004 – Nº 9.
Bortolini, José – Os Sacramentos em sua Vida. São Paulo. 14ª edição. 1981
Catecismo da Igreja Católica. Vozes. Petrópolis. 2003
Takatsu, Sumiu – Pastoral da Confirmação. Apostila.
Takatsu, Sumiu – Pastoral das Ordens e Ordenações. Apostila.
Livro de Oração Comum (LOC). Metrópole Indústria Gráfica Ltda. Porto Alegre. 1999
Klein, Carlos Jeremias – Calvino e os Sacramentos - http: //metodista.br/ppc/correlatio

Batismo: Celebrando a vida em Comunidade

Por Ivan Vieira


Nestas páginas falarei sobre a importância do Sacramento do Batismo, porta pela qual entramos na Vida Cristã. Pela graça do Batismo somos remidos de todos os pecados, somos incorporados ao Corpo Místico de Cristo e somos chamados a viver em santidade. O ato em si nos torna participantes do Seu Reino, nos torna sacerdotes porque participamos do sacerdócio de Cristo e nos torna profetas para anunciar a libertação aos cativos e necessitados do amor de Deus.

Sumário

1) Introdução
2) Desenvolvimento
2.1 O Sacramento do Batismo
2.2 O Batismo de Cristo
2.3 O Batismo na Igreja
2.4 O Batismo de Adultos e Crianças
2.5 A Graça do Batismo
2.6 A Simbologia Batismal
2.7 Batismo: Celebrando a Vida em Comunidade
3) Conclusão
4) Bibliografia

Introdução

O Batismo faz de nós filhos de Deus e, por consequência disso, pertencemos à mesma família de irmãos. Levando em consideração que este Sacramento nos dá identidade, através dele somos enxertados no grande Corpo Místico e somos convidados a viver em comunidade. Somos intimados a sermos diferentes em um mundo onde a secularização massificou a todos.


Aquele que foi batizado é convidado a colocar em prática o Mandamento Novo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Seremos reconhecidos quando esse Mandamento Novo for vivenciado por cada batizado. Reconhecerão que somos discípulos de Cristo quando ouvirmos a voz dos mais necessitados e o nosso egoísmo for menor do que o grito daqueles que gemem de fome e de dor.


O nosso Batismo não só nos dá a certeza de sermos filhos de Deus, mas desperta em nós a consciência de que assumir a identidade cristã traz consigo o compromisso de colaborar com a construção do Reino de Deus.


Fazemos parte de um Corpo e estamos em comunhão com muitos irmãos que a cada dia ouvem os apelos de Deus e são impelidos, como nós, a também dar a sua resposta única e pessoal.


Brevemente, nestas poucas páginas, convido os caríssimos irmãos de caminhada a uma reflexão sobre o Santo Batismo desde Jesus Cristo, batismo esse administrado pelo precursor João Batista; assim como o de outrora realizado nas comunidades primitivas onde os catecúmenos eram preparados para receber este sacramento que era o “green card” da inserção dos eleitos de Deus em Jesus Salvador.


O batismo de adultos e crianças também será tratado nestas páginas. Como disse acima, as pessoas que eram evangelizadas e sentiam o forte apelo a integrar-se na comunidade cristã eram batizadas, o que era uma situação normal na Igreja. No século II, a prática de batizar crianças vai se tornar uma tradição.


Em a Graça do Batismo veremos que o ato em si não só purifica de todos os pecados, mas também faz de cada batizando uma criatura nova.


O rito batismal é riquíssimo em símbolos, por isso a Liturgia deve ser bem preparada porque é o momento da comunidade juntamente com a família que celebra este momento acolher a criança ou o adulto que participa da festa dos que aderiram ao seguimento de Cristo Jesus.


2.1) O Sacramento do Batismo.

Não podemos conceber a vida cristã sem o sacramento do batismo, através deste somos remidos de todo pecado e regenerados como filhos de Deus e feitos participantes de sua missão.


Há duas maneiras de compreendermos o Batismo, ambos encontram-se no Novo testamento: o batismo descrito como renascimento Jo 3, e o batismo como participação na morte de Cristo, segundo a interpretação que dá Paulo em Romanos 6 (ou Colossenses 2, 12ss). Segundo ele pelo Batismo, o crente comunga na morte de Cristo, é sepultado e ressuscita com Ele.


No primeiro exemplo, a fonte batismal é vista como o seio materno e no segundo como um sepulcro. O Batismo então pode ser visto, ao mesmo tempo, como nascimento e como morte, porque através deste sacramento nós entramos no mistério de Cristo. É o nosso primeiro casamento místico com Deus.


Quando batizados nós somos incorporados à Igreja, porque através do Batismo, nos tornamos membros de Cristo e membro de seu corpo.


Existe um só Batismo, graças ao qual somos incorporados ao mistério profundo invisível do corpo de Cristo, à Igreja una, santa, católica e apostólica. Mas como essa Igreja vive na história em um estado de divisão, com o batismo entro em uma igreja católica romana, ortodoxa, anglicana etc.


O batismo é uma passagem, uma mudança ontológica de situação. Por meio dele, a criança, o adulto e as famílias são admitidos na Igreja, tornam-se herdeiras e plenamente filhas de Deus.


“O Batismo é o mais belo e mais magnífico dom de Deus. Chamamo-lo de dom, graça, unção, iluminação, veste de incorruptibilidade, banho de regeneração, selo e tudo o que existe de mais precioso. Dom, porque é conferido àqueles que nada trazem; Graça, porque é dada até aos culpados; Batismo, porque o pecado é sepultado na água; Unção, porque é sagrado e régio; Iluminação, porque é luz resplandecente; Veste, porque cobre nossa vergonha; Banho, porque lava; Selo, porque nos guarda, e é o sinal do senhorio de Jesus”. (Catecismo da Igreja Católica, pag. 341 – Edições Loyola).


O Senhor mesmo afirmou que o batismo é necessário para a salvação (Jo 3,5). Também ordenou aos seus discípulos que anunciassem o Evangelho e batizassem todas as nações (MT 18, 19-20). Através dele somos purificados de todo pecado e faz do neófito, ou seja, daquele que foi batizado, uma criatura nova (2 Cor. 5,17), um filho adotivo de Deus (Gl 4, 5-7), que se tornou participante da natureza divina (2Pd 1,4), membro de Cristo (1 Cor. 6,15;12,27) e co-herdeiros com Ele (Rm 8,17), templo do Espírito Santo (1Cor. 6,19).


Somos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A Santíssima Trindade dá ao batizado a graça santificante, a graça da justificação a qual torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele e de amá-lo por meio das virtudes teologais; concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo por seus dons; permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais. Desta forma todo organismo da vida sobrenatural do cristão tem sua raiz no Santo Batismo.


Com o Batismo somo incluídos plenamente na comunidade do povo de Deus – Corpo de Cristo, comunidade do Espírito Santo, da Nova Aliança, da Nova Criação e nos identificamos com o que faz a Igreja ser Igreja: portadora da Boa-Nova aos necessitados.


Paulo em 1 Cor. 12,13 refere-se a essa identidade comum de todos os cristãos dizendo: “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito”.

2.2) O Batismo de Cristo.

Todas as promessas da antiga aliança encontram sua realização em Cristo Jesus. Cristo inicia sua vida pública depois de ter sido batizado por João batista no Jordão. Embora não tivesse pecado (Jo 8,46), Jesus quis submeter-se ao Batismo de João, no qual reconhece um acontecimento que corresponde à vontade de Deus (Lc 7,29-30), constituindo a preparação final para a era messiânica (Mt 3,6), e satisfazer assim a justiça salvífica de Deus que preside o desígnio da Salvação.


Indo além do ato do Batismo, Mateus pensa certamente na nova “Justiça” pela qual Jesus havia de cumprir e completar a lei antiga. O espírito que pairava sobre as águas da primeira criação (Gn 1,2) aparece aqui no prelúdio da nova criação. Por um lado ele unge Jesus para sua missão messiânica (At 10,38), que de agora em diante há de dirigir (Mt 4; Lc 4, 14-18), por outro lado, como entenderam os Pais da Igreja, santifica a água e prepara o batismo cristão (At 1,5).


Confirma Jesus como o verdadeiro servo anunciado por Isaías. Entretanto o termo “Filho”, que acaba por substituir o termo “Servo” salienta o caráter messiânico e propriamente filial de sua relação com o Pai.


Marcos relata o Batismo de Jesus também confirmando em Jesus todas as promessas messiânicas: “Logo que Jesus saiu das águas viu o céu se rasgando, e o Espírito como pomba, desceu sobre Ele” (1,10).


O evangelista enfatiza que ao rasgar o céu, na pessoa de Jesus, a separação que havia entre Deus e os homens se rompeu. E a voz que ecoa do céu: “Tu és o meu Filho muito amado, em ti encontro o meu agrado”, vem confirmar as promessas de Deus ao povo de Israel e revelar a identidade do homem de Nazaré: Ele é o Filho de Deus, o Messias-Rei (Sl 2,7) que vai estabelecer o Reino de Deus através do serviço, como o Servo de Javé (Is 42, 1-2).


Para Lucas o batismo de Jesus acontece num contexto em que João batiza o povo, e Cristo Jesus está inserido neste ambiente e acontecimento (3,21-22). Já no batismo, Lucas declara o caráter messiânico de Jesus, Ele está no meio do povo. Jesus após o batismo se põe a rezar, então o céu se abre.


É magnífico como os evangelistas usam desse recurso belíssimo para mostrar a grandeza e a magnitude do Mestre Jesus. O céu se abre, o céu se rasga. Todos, naquele momento, puderam ver e testemunhar a Beleza revelar-se através do Espírito em forma de pomba. E a confirmação que sai mais uma vez da boca de Deus: “Tu és o meu Filho amado! Em ti encontro o meu agrado”.

2.3) O Batismo na Igreja.

A partir de Pentecostes, acontece uma revolução na Igreja, os apóstolos cheios de coragem, vivificados pela força do Espírito santo, impulsionam a comunidade a sair, proclamando a Boa Nova de Jesus, celebrando e administrando o Santo Batismo aos neo-convertidos ao cristianismo.


Pedro declara a multidão impressionada com sua pregação: “arrependei-vos, e cada um de vós, seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão de vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2,38).


Os apóstolos pregam um batismo de conversão e é administrado a todo aquele que crer em Jesus: judeus, tementes a Deus, pagãos (1Jo 5, 6-8).


O batismo está sempre ligado a fé: “crê no Senhor e serás salvo, tu e tua casa”, declara Paulo ao carcereiro de Filipos. O relato prossegue: “E imediatamente o carcereiro recebeu o Batismo, ele e todos os seus (At 16, 31-33).


Com o Batismo, a pessoa que é batizada é feita membro de Cristo e de seu corpo. Existe um só batismo, graças a este somos incorporados ao mistério profundo invisível do corpo de Cristo.


“Depois de Pentecostes, Cristo é inseparável de seu corpo eclesial, cuja salvação não é nem individual, nem coletiva, mas em comunhão” (Campatelli, Maria.O Batismo: cada dia às fontes da Vida). O Batismo nos introduz a Cristo e aos irmãos nessa comunhão inseparável a que chamamos koinonia.


A ânsia por uma vida plena, pela libertação, certamente move muitas pessoas até hoje. Para os antigos cristãos, o encontro com Cristo era tão fascinante que eles assumiam até os perigos da perseguição para estar em comunhão.


A carta de Pedro transpõe a mensagem de Jesus à situação espiritual do mundo helenístico, nela ele deixa claras as razões da atração exercida por Jesus, no fato de ele fornecer tudo que é bom para a vida do cristão: “ Por ele nos foram concedidos os bens do mais alto valor que nos tinham sido prometidos, para que graças a eles, entrássemos em comunhão com a natureza divina, tendo-vos arrancado à corrupção que a concupiscência alimenta no mundo” ( 2Pd 1,4).

2.4) Batismo de Adultos e Crianças.

Nas comunidades primitivas, o catecumenato era uma realidade onde as pessoas eram preparadas, instruídas na fé e em união com uma comunidade eclesial que levava o catecúmeno à conversão, à fé e à maturidade.


À medida que cresceu o número dos adultos que queriam tornar-se cristãos, nasceu a exigência de uma preparação mais sólida para receber o batismo.


A figura dos padrinhos, membros fiéis à comunidade, surgiram para garantir e acompanhar os neo-convertidos na nova estrada na qual se preparava para caminhar.


Na Igreja dos primeiros séculos, antecedendo o ritual do Batismo, havia uma preparação de muitos anos em que os batizandos eram introduzidos no mistério da vida cristã. A partir desse momento, eles rompiam com seu passado e se tornavam novas criaturas comprometidas em testemunhar Jesus Ressuscitado.


A partir do sec. II, a prática de batizar crianças tornou-se tradição na Igreja. Mas acredita-se que desde o início da pregação apostólica, quando “casas inteiras” recebiam o batismo também se tenham batizado as crianças.


Devemos reconhecer que a criança não tem apenas uma vida terrena, mas também divina, que a morte não tem mais poder sobre ela, porque ela já participa da ressurreição de Jesus.


“No Batismo, o próprio Jesus toca a criança, instala nela a sua vida divina e o seu amor incondicional, transmite-lhe a proteção de Deus e mostra-lhe toda a sua beleza” (Anselm Grün, Batismo – Celebração da vida).


A gratuidade pura da salvação é particularmente manifesta no batismo das crianças. A Igreja e os pais estariam privando as crianças da graça inestimável de tornar-se filhos de Deus se não lhes conferissem o Batismo depois do nascimento.

2.5 ) A Graça do Batismo.

Pelo Batismo, somos libertos de todos os nossos pecados: o pecado de nossos antepassados (original) e todos os pecados pessoais, bem como todas as penas do pecado. Desta forma todos que receberam a graça do batismo, que foram incorporados à Igreja em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, foram regenerados. Não há mais sobre eles nada que os impeça de entrar no Reino de Deus.


O Batismo não só nos purifica de todos os pecados, mas também faz de todos os batizados “uma criatura nova” (2Cor 5:17), um filho adotivo de Deus (Gl 4:5-7); que se tornou participante da natureza divina (2Pd 1:4), membro de Cristo (1Cor 6:15; 12:27), pois uma vez batizados, somos incorporados à Igreja.


Da fonte batismal é que nasce o único povo de Deus da nova aliança. Como nos diz São Paulo em Cor. 12,13: “Fomos todos batizados num só Espírito para sermos um só povo.” Somos ainda co-herdeiros com ele (Rm 8:17), e templo do Espírito Santo (1Cor 6,19).


O Deus Triuno dá ao batizado a graça santificante, a graça da justificação a qual:


- Torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele e de amá-lo por meio de Virtudes Teologais;


- Concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo por seus dons;


- Permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais.


Pelo Batismo recebemos ainda a graça de participarmos do sacerdócio de Cristo, de sua missão profética e régia. “Sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa” (1Pd 2,9).


O Batismo imprime na alma um sinal indelével, o caráter, que consagra o batizado ao culto da religião cristã. O selo batismal capacita e compromete os cristãos a servirem a Deus em uma participação viva na sagrada liturgia da Igreja e a exercerem seu sacerdócio batismal pelo testemunho de uma vida santa e de uma caridade eficaz.

2.6 ) Simbologia Batismal.

Na Celebração do Batismo, alguns símbolos são utilizados para expressar o momento batismal. Os Símbolos são a linguagem do mistério. Os Símbolos na Liturgia contém, ocultam e, ao mesmo tempo, revelam e comunicam o mistério.


Na Liturgia, todos os sinais são sinais simbólicos, e serão sinais litúrgicos na medida em que forem capazes de ocultar, conter, revelar e comunicar os mistérios de Cristo.

1) A Água:


É a imagem central do batismo e, ao mesmo tempo, é o símbolo mais importante porque ela é origem de toda vida, sem ela nada floresce tudo fenece. Ela é uma imagem de fecundidade espiritual. Simboliza a pureza.


Quando se derrama água sobre a cabeça do batizando, esse derramamento simboliza o derramar e o lavar do Espírito Santo e o ser revestido de Cristo. Das águas do Batismo santificadas pelo Espírito Santo emerge uma nova criatura. Muda-se vida-morte para o mundo, em vida em Jesus.


A Igreja, pelas águas do Batismo, dá a luz novos filhos. (Jo 3: 1-13).


A água é apenas um símbolo, ela não tem a força e nem o poder de purificar o pecado. É o Espírito Santo que nela atua em todos os acontecimentos e no momento do Batismo. Ele com a força e o poder divino destrói todo o mal que existe e proporciona a alegria de uma nova vida.

2) O Sinal da Cruz:

Logo após o diálogo introdutório em que os pais pedem o Batismo para a criança, o sacerdote convida-lhes a traçarem o Sinal da Cruz na fronte da criança.


Este momento representa o primeiro encontro da criança com a fé em Jesus Cristo na salvação pela morte redentora do Senhor na cruz. Fazer o Sinal da cruz é lembrar o mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Faz-nos lembrar ainda que o Filho do Homem morreu na cruz para nos reconciliar com o Pai.


Quando o sacerdote convida os pais a traçarem o Sinal da Cruz na fronte da criança, ele quer dizer a salvação vem àquela criança através da fé dos pais.

3) O Óleo Santo:

O óleo perfumado, consagrado pelo bispo, significa o dom do Espírito Santo ao novo batizado. Este se tornou um cristão, isto é, ungido do Espírito Santo incorporado a Cristo que é ungido sacerdote, profeta e rei.


O rito de Unção no Batismo é feito após a infusão da água. É a Unção com óleo chamado do crisma. O sacerdote unge a testa da criança dizendo: “N”, no Batismo estás selado (a) pelo Espírito Santo com o sinal da cruz (+). És de Cristo para sempre. Amém.


No Antigo testamento era comum ungir sacerdotes, reis e profetas. O próprio Cristo foi ungido pelo Espírito Santo de um modo muito especial. Esta unção significa para nós que pelo Batismo nos tornamos participantes do poder messiânico de Jesus. E ainda como afirma Pedro na sua primeira epístola (1 Pedro 2, 9-10 ), nos tornamos raça eleita com Cristo, reis (rainhas), sacerdotes e profetas.


Profetas, porque participamos da salvação em Cristo, e comprometidos a anunciar a humanidade o mesmo Cristo por palavras e testemunho de vida. Mostrar a face de Deus que, como nos diz João Evangelista: “Deus é amor” e isso através do verdadeiro amor pessoal.


Tornamo-nos sacerdotes. Não possuímos o sacerdócio ministerial com o poder de fazer a consagração na Ceia Eucarística. Mas nos tornamos participantes do sacerdócio de Jesus, pois participamos do novo povo de Deus na Nova Aliança. Fazemos parte de um povo sacerdotal capaz de oferecer sacrifícios com Cristo. Isto porque, recebemos nossa vida como precioso dom de Deus e assim, devemos oferecê-la em retribuição, em ação de graças ao criador. Todo cristão pode e deve, em sua vida, orientar todas as coisas para Deus.


Por fim, pelo Batismo nos tornamos reis, possuidores do Reino de Deus. Com Jesus vencemos a morte e o pecado e podemos participar da própria vida de Deus.

4) A Vela Acesa:

Significa que Cristo iluminou o neófito. Em Cristo os batizados são a “luz do mundo” (Mt 5:14). Este gesto é muito significativo. Na cerimônia do Batizado, o sacerdote acende uma vela e a entrega aos pais e padrinhos dizendo: “Entrego-te esta Luz”. Em seguida toda a assembléia responde: “Como testemunho de que passaste das trevas para a luz. Agora deves brilhar como a luz no mundo, para a glória de Deus Pai”.


Pelo Batismo somo iluminados, participamos da Luz que é Cristo. Não mais andamos nas trevas, pois somos filhos de Deus. A vela acesa pode significar também a nossa fé. Ela mantendo-se acesa mostra que não caminhamos nas trevas do inimigo.


Os pais se tornam responsáveis para que a criança se torne luz para os outros em sua vida. Recomenda-se aos pais que, anualmente, no transcurso da data do batismo, a mesma vela seja acesa, repetindo-se o gesto até que a criança venha a ser confirmada. ( Livro de Oração Comum – rubricas ).

2.7) Batismo: Celebrando a vida em comunidade.

Celebrar é festejar, é alegrar-se com as coisas boas que recebemos. É deixar-nos saborear as delícias de uma vida de realizações. É fazer com que a vida seja bem vivida e celebrada com a família e com os amigos.


O Batismo nos torna partícipes do Corpo Místico de Cristo. Faz a todos nós irmãos e nos torna membros da comunidade paroquial.


O ato de levar uma criança para ser batizada faz renascer no ser humano o gesto de gratidão e de alegria, porque assim recorda-se o próprio batismo, já que os pais e padrinhos quando foram batizados, não tinham o discernimento necessário para entender a beleza por detrás da liturgia do Batismo e de toda a sua dimensão.


Os pais de um lado, felizes pela sua cria que vai receber o batismo, os padrinhos de outro, felizes por terem sido eleitos pessoas amigas e queridas a quem os pais confiam seus filhos.


É o momento em que todos estão sensibilizados com a cerimônia e o ato em si. Daí surge a oportunidade para assim como Cristo, evangelizar, levar uma mensagem de esperança e apresentar Jesus que pode restituir a todos a alegria de viver.


A comunidade em torno do altar assiste ao batismo e participa renovando, mais uma vez, as promessas do Batismo. A água que é símbolo de vida e purificação é jogada sobre a cabeça da criança. Basta uma gota d’água sobre a cabeça. Naquela gota se encontra todo amor dos pais. Naquela gota d’água contém vida, contém esperança. Onde há gota d’água pode haver um rio caudaloso, pode haver peixes, plânctons, pode haver uma imensidão.


Por isso a liturgia do Batismo deve ser bem preparada, e de preferência que aconteça durante a Celebração Eucarística para ressaltar a importância do ato e o convite que é feito a todos para participar da mesa de comunhão.


É a mesa dos batizados, é a mesa dos irmãos que juntos ouvem a Palavra e repartem o pão imitando o gesto de Jesus com seu apóstolos. “O Batismo nos une a Cristo e uns aos outros. Na medida em que a Igreja se vê formada pela sua identidade batismal, teremos consequências para a celebração da Santa Eucaristia”. ( Relatório da Vª Consulta Internacional Anglicana de Liturgia – Dublin, Irlanda – 1995 ).


O Relatório de Dublin nos diz ainda que os Sacramentos são ações realizadas por toda a assembléia. Então quando estamos reunidos com todos os batizados, povo de Deus, celebramos juntos a Eucaristia, o Batismo etc.


Para que saia tudo de acordo, a equipe de liturgia deve entrar em ação, deixando tudo preparado. Pia batismal, os Santos Óleos, o Livro de Oração Comum, as alfaias etc. A equipe deve estar em sintonia com tudo que está para acontecer, auxiliando o sacerdote nas suas necessidades.


Em algumas paróquias, costumam-se batizar sem o devido preparo. O preparo é necessário para orientar os pais e padrinhos sobre a importância do Batismo e no caso de o catecúmeno ser adulto também. Esse era o procedimento nas comunidades primitivas, e olha que havia todo um ritual. Havia etapas a serem vencidas para que o indivíduo fosse aceito e batizado na comunidade.


As pessoas desde os primórdios se reúnem para celebrar tantas coisas: a festa do sol, a festa da primavera, a festa das tendas, o campeonato brasileiro, a Copa do mundo etc. Por que não fazer deste momento uma grande festa? Por que não despertar na comunidade a necessidade de batizados na Paróquia?


O Batismo, creio eu, é o termômetro para sabermos se a comunidade está crescendo. Se não ocorrem batizados frequentemente, quer dizer que as nossas comunidades estão velhas, paradas no tempo, não estão se renovando e estão caminhando para o caos. Paróquias com muita gente idosa onde não há a participação de jovens e a escola dominical nem existe.


Deveríamos dar mais ênfase ao Sacramento do Batismo em nossas paróquias, fazer o povo de Deus entender que este sacramento é de suma importância para a vida da Igreja.


Em seu livro “Batismo, Celebração da Vida”, Anselm Grün diz: “para os antigos cristãos, o encontro com Jesus era tão fascinante que eles até assumiam os perigos da perseguição só para sentir essa nova qualidade de vida que ele lhes oferecia”.


O que fazer para que o povo possa sentir como os antigos esse fascínio por Jesus? O que podemos fazer para suscitar no povo o mesmo anseio que levava os convertidos ao encontro radical com Jesus a ponto de arriscarem a própria vida por conta do compromisso com o Evangelho?


Nossos sermões ou homilias estão sendo um meio para levarmos o povo ao compromisso? Ou apenas contamos historinhas para rechearmos a nossa pregação sem mexermos com o agir das pessoas e por consequência com o seu compromisso comunitário?


Comunidade comprometida é comunidade que vive o batismo. Precisamos de pessoas engajadas nos movimentos sociais, nas juntas paroquiais, nas escolas dominicais, nas pastorais da comunidade agindo como fermento na massa, fazendo o batismo valer a pena.


Façamos, portanto, um compromisso com Cristo: vamos evangelizar, converter corações para o nosso Deus, despertar o povo para uma vida comunitária, batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e festejar celebrando a vida.

3) Conclusão

Uma reflexão sobre o tema Batismo e uma auto-avaliação faz-se necessário a todos nós, povo de Deus, que se encontra na caminhada rumo ao reino prometido.


O Batismo nos torna Filhos de Deus, juntos fazemos parte do Corpo Místico de Cristo e somos convidados a sermos outro Cristo para aqueles que necessitam do amor de Deus.


Este sacramento nos impele a rompermos com o egoísmo, nos faz mais comunitários, mais participantes das pastorais de nossa paróquia e mais irmãos, rompendo com o individualismo.


Assim como para os antigos o Batismo era um ato radical que os fazia romper com tudo para viver uma vida nova, em nós tambem ele deve nos mover em direção ao Cristo que é o nosso norte e por conseqüência disso aos nossos irmãos.


Devemos em nossas comunidades dedicarmos mais tempo ao anúncio do evangelho, talvez esteja faltando mais catequese e menos historinhas para enchermos os sermões.


Precisamos de mais momentos com o povo, de mais oração, mais espiritualidade, quiçá retiros.


Pensamos em obras sociais, enquanto isso não existe espiritualidade. Fazemos centenas de casamentos e não temos batizados.


Devemos repensar nossa pastoral e nossa vida ministerial.

4) Bibliografia

Campatelli, Maria. O Batismo: cada dia às fontes da vida nova. São Paulo: Edusc.2008
E. de Miranda, Evaristo. Água, sopro e luz. Alquimia do Batismo. São Paulo. Edições Loyola. 1998
Grüm, Anselm. Batismo: Celebração da vida.
Agostinho, Santo. A verdadeira Religião. São Paulo. Paulus. 1987
Catecismo da Igreja Católica. Vozes. Petrópolis. 1993
Takatsu, Dom Sumiu. Pastoral sobre Batismo e Comunhão.
Bíblia de Jerusalém. São Paulo. Edições Paulinas. 1985
Livro de Oração Comum (LOC). Metrópole Indústria Gráfica Ltda. Porto Alegre. 1999
Relatório da Vª Consulta Internacional Anglicana de Liturgia. Dublin, Irlanda. 1995