segunda-feira, 6 de julho de 2009

Missões num Mundo Globalizado (Jorge de França Souza)

MISSÕES NUM MUNDO GLOBALIZADO

Disciplina: Evangelização
Mestre: Dr. Pedro Triana
Seminarista: Jorge de França IAET – Instituto Anglicano de Ensino Teológico
Segundo Semestre / 2007

Quando escolheu os 12 apóstolos, em nenhum momento Jesus perguntou se eles queriam segui-lo, simplesmente disse: ”vinde após mim e vos farei pescadores de homens”. Nos dias atuais acontece da mesma forma e independe de nosso querer. Muitas vezes percebemos os sinais, porém não vislumbramos o chamado divino.

Às vezes precisamos nos questionar: - Como seguir a Cristo e qual a maneira mais eficaz de servir este povo esquecido pelas elites dominantes, com o mesmo exemplo de Jesus que lavou e beijou os pés dos discípulos?

Hoje no mundo globalizado, individualizado, fragmentado e relativista, como podemos fazer para que o evangelho seja propagado àqueles que ainda estão distante das promessas da boa nova?

Para termos embasamento aos nossos questionamentos é preciso voltar ao passado e sentir no íntimo os ensinamentos do Mestre e analisar como era o comportamento e as atitudes dos primeiros cristãos e procurar entender, ao longo da história, o verdadeiro significado da missão.
Durante os 30 anos em Nazaré, Jesus trabalhava na roça e prestava serviço ao povo como carpinteiro. Eram tempos difíceis, pois o Império Romano dominava a Palestina e explorava o povo através dos impostos altíssimos (mera coincidência com os dias atuais) e trabalhos forçados (Segundo dados da projeto Milênio da O.N.U., feito em 2002, há mais pessoas escravas hoje do que no auge do período em que a prática era legal). A estimativa é que entre 13.7 e 37 milhões de pessoas trabalhem em condições de escravidão).

A história nos mostra que quando Jesus ainda era um menino de 7 anos, a repressão romana atacou e destruiu a capital da Galiléia, chamada Séforis, que ficava a sete quilômetros de Nazaré. A população inteira foi morta ou escravizada. Após alguns anos, quando Jesus já era adulto, o rei Herodes mandou construir uma nova capital à qual deu o nome de Tiberíades para honrar a Tibério, o imperador de Roma. Lá moravam os grandes da corte, os oficiais e os cidadãos importantes da Galiléia. Os pobres, o povo da roça, sofriam muito. Eram marginalizados de tudo, excluídos e às vezes executados sem processo, como aconteceu com João Batista. Os recenseamentos freqüentes eram apenas para saber quanto cada família tinha de pagar de tributo e de imposto. Os estudiosos calculam que mais da metade do salário de um pai de família ia para os impostos, tributo, taxas e dízimos.

E a religião, o que fazia para ajudar o povo? A religião oficial dos escribas e fariseus, dos saduceus e sacerdotes não dava muita atenção a esse sofrimento do povo. Em vez de ajudar o povo a resistir e não perder a esperança, insistia quase só na observância da normas rituais da lei, nas práticas do culto e na pureza da raça. Em vez de animá-lo, ameaçava em nome de Deus com castigo e pecado. Em vez de diminuir, aumentava a exclusão, ensinando que deficientes físicos, doentes, gente com defeito corporal, estrangeiros, mulheres e tantos outros não podiam participar plenamente na vida da comunidade.

E foi neste ambiente que Jesus começou sua vida pública, sua missão. A esperança do povo realizou-se em Jesus que disse assim : “Eu sou o bom pastor”. E foi com ternura, bondade que Jesus começou a ensinar para o povo. Impressionava a acolhida e a bondade de Jesus para com as pessoas, sem distinção de raça, credo, ou posição social. A sua grande preocupação era aliviar a dor do povo sofrido.

Como servo do Pai, anunciado pelo profeta Elias, Jesus se colocava em oração diante de Deus para assim encontrar palavras de conforto para o povo desanimado..

A pregação de Jesus atraia muita gente. Ao redor, começou a nascer uma pequena comunidade. Primeiro eram duas pessoas, depois mais duas e estas chamaram outras, depois aumentou mais 12 quando Jesus escolheu os apóstolos e logo já eram 70. E quando os enviava em missão, eram sempre dois a dois. Este ambiente de fraternidade ao redor de Jesus já eram um ensaio do Reino. Não era fácil viver em comunidade. As divisões da sociedade entravam para dentro da comunidade ao redor de Jesus. Por exemplo, Mateus era um publicano que colaborava com os romanos. Simão era do movimento dos Zelotes ou Cananeus que combatiam os romanos. Seria como chamar, nos dias atuais, pessoas de extrema direita e outras de extrema esquerda para formarem uma só comunidade.

Na época eles brigavam entre si para saber quem era o mais importante. Mas Jesus insistia para que aprendessem a conviver em comunidade.
Depois da ressurreição, entre os primeiros cristãos, também houve divisões: “Eu sou de Paulo; Eu sou de Pedro; Eu de Cristo”. Uns queriam manter as observâncias do antigo testamento, outros queriam agir com mais liberdade. Por causa disso Paulo enfrentou Pedro publicamente.
Daí, percebe-se que não havia unidade, as origens do cristianismo são na verdade pluralistas. Pedro era Judeu, Paulo era gentio. As visões teológicas eram diferentes. Outro erro é esquecermos que houve também missões para outros lugares, inclusive para a África (Atos 8:26). Só que a nossa visão de cristianismo foi puramente ocidentalizada.

Enfim, as estruturas da Igreja surgem em momentos tensos e de transformações políticas, além é claro, das perseguições por parte do império romano. E mesmo com as divergências e as perseguições, pela ação do Espírito Santo eles conseguiram propagar a boa nova aos quatro cantos do mundo.

No início, a relação entre os cristãos e o Império Romano foi de hostilidade. Já no ano de 68, o imperador Nero decretou uma perseguição sistemática contra eles, ceifando a vida dos primeiros pregadores. Até o início do século IV, muitas outras perseguições se sucederam, e milhares de adeptos foram sendo eliminados em diferentes épocas e lugares, alternando-se com períodos de paz. A acusação era de descrença por não adorarem os deuses de Roma, nem admitirem a divindade do Imperador. Pelo Édipo de Milão, no ano de 313, o imperador Constantino concedeu a liberdade religiosa (como se revelara inútil pretender sustar o crescimento do cristianismo, era mais vantajoso fazer dele uma religião oficial). Para quem fora perseguido, era maravilhoso. O triunfo do Cristianismo fez com que a igreja desabrochasse. Os Bispos tornaram-se personagens centrais em cada cidade. Foram chamados “pontífices”, nome dado aos sacerdotes romanos.

Nos dias atuais, é preciso repensar o verdadeiro sentido da missão. Ser sacerdote num mundo globalizado, cheio de imprevistos, de incertezas e inseguranças, numa identidade sacerdotal nem sempre clara e numa missão conflitiva e exigente, pode colocar medo em muita gente. Aos mais corajosos estas dificuldades desafiam e convidam a tomar cada vez mais consciências do valor do sacerdócio que, como tesouro, carregamos num vaso de argila e todo cuidado é pouco para que o vaso não se quebre. Mas ser sacerdote sempre será e é uma aventura de fé, de amor e de esperança. É Jesus que tendo entrado na vida não pode mais sair, e que nos impulsiona com força para sermos profetas, missionários anunciadores dos valores do reino que somente será capaz de criar uma sociedade nova e um mundo em que o ódio, a ganância e o egoísmo não poderão ter direito de existir.

Ser sacerdote de qualquer “Jeito” sempre foi fácil, afinal, parece ser uma vida confortável e cômoda, mas ser sacerdote segundo o coração de Cristo, ser bom pastor como os profetas sonharam e o Cristo realiza plenamente, é sempre exigente e obriga a sair de si mesmo para tomar a cruz do Senhor Jesus e caminhar de cabeça erguida.

O sacerdote deve ter a certeza que é um “cordeiro” enviado no meio de lobos e não pode dar tréguas aos lobos que tentam arrebatar, estraçalhar, ferir e destruir o rebanho. Ele sabe que a sorte do rebanho será também a sua, que a morte de Cristo, bom pastor, na cruz, será também a sua. Também precisa entender claramente que a missão não é sua e sim de Cristo. Ele é apenas um instrumento.

Mas será que é só isso? É preciso ter em mente que algumas mudanças precisam ser feitas. O modelo de evangelização utilizado pelos primeiros evangelizadores, apresentava-se nos moldes de Jesus de Nazaré como um processo inculturado, ou seja, exigia-se um esforço para pensar e agir a partir da realidade cultura dos seus simpatizantes. A dimensão cultural não foi rejeitada, mas sim inclusa na perspectiva dessa evangelização. A tentativa propunha a dimensão do sagrado na convivência do dia-a-dia, sem instituir uma prática desrespeitadora dos primitivos valores de cada segmento.

Nos 500 anos de evangelização católica na América Latina, diversas falhas foram apontadas, principalmente sobre a precipitada condenação dos deuses dos povos indígenas e africanos. A evangelização colonial, por exemplo, não se assentou sobre o amor de Deus aos povos, mas sim, solidária aos atos do colonizador e na transposição de uma fé alheia a dos colonizados.

Atualmente se fala que as Igrejas tradicionais, devem re-situar-se no cenário moderno brasileiro, adaptar sua linguagem, atualizar seus métodos e desdobrar seu ardor missionário, atualizar o discurso bíblico, teológico e eclisiológico, re-atualizar as estruturas que limitam e restrigem, re-atualizar nossa tradição litúrgica (refletir o dia-a-dia da comunidade) e atualizar nossos modelos de ministérios. Mas só isto não basta para que ocorra uma evangelização verdadeiramente inculturada. A inculturação não pode ser entendida apenas como uma estratégia de evangelização, um novo marketing religioso. No processo de evangelização, a inculturação já implícita na vida dos povos, de alta dinamicidade, deve ser aceita e preservada. Esse processo não é só uma questão cristã, mas inter-religiosa e ecumênica, pois nos coloca diante do pluralismo religioso a ser respeitado.

Os desafios são grandes, mas precisam acontecer. Os dias em que vivemos são complexos e repletos de desafios. Nas áreas política, empresarial e institucional existe a expectativa de que os líderes sejam ao mesmo tempo íntegros, competentes e dinâmicos. Essa expectativa também se verifica no meio religioso, mas com um diferencial. Os ministros devem prestar contas de seus atos não somente aos seus paroquianos, mas principalmente àquele que os vocacionou e capacitou para o seu nobre ofício – O próprio Deus.

Numa época em que o trabalho pastoral se torna uma atividade entre outras, em que os ministros correm o risco de serem meros “profissionais do púlpito”, em que motivações secundárias ou menores buscam a supremacia no coração dos presbíteros, vale a pena ouvir a exortação de Paulo ao seu colega mais jovem:
“Cumpre cabalmente o teu ministério”(2 Tm 4,5).

Bibliografia

MESTERS, Carlos & OROFINO, Francisco. “Seguir Jesus”. SP:Paulus, 2006.

Revista bimestral “Vida pastoral”. SP:Paulus, 2007. Nº 257.

<http://www.dasp.org.br/codigos/artigos/evangelizacao_e_%20renovacao_do_anglicanismo.htm>, visitado em 16 jan. 2008.

<http://www4.mackenzie.com.br/7101.html>, visitado em 17 jan. 2008.

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