segunda-feira, 6 de julho de 2009

Reflexões sobre o Diaconato permanente (Reginaldo Marcelo)

Reginaldo Marcelo
Reflexões sobre o Diaconato permanente
Instituto Anglicano de Estudos Teológicos – IAET
2008


Introdução


Servir ao mundo é a tarefa primordial da igreja de Jesus Cristo. Rev Triana afirma em seu texto apresentado no Jornada teológica do IAET – 2008 – “Espiritualidade, Missão e Diakonia” que: a diaconia é a própria identidade da igreja e que se é discípulo ou discípula na medida em que se é servidor ou servidora e por isso, toda a tarefa de dedicação ao evangelho é diaconia, desde a missão, até a edificação e o cuidado da comunidade.


Para a igreja cumprir sua tarefa diaconal, Deus chama a todos os/as batizados/as, sem distinção de sexo ou etnia, para resgatar a humanidade e criação da escravidão e da morte e assim conceder vida em abundância.


Mesmo vocacionando a todos/ as batizados/as em sua tarefa de servir ao mundo, a Igreja ordena em nome de Cristo, pela invocação do Espírito Santo e imposição de mãos, alguns de seus membros para exercer os ministérios de Bispo/a, Presbítero/a e Diácono/a, estes são servos/as entre os servos/as. “Este, como todos os outros, é um ministério no serviço de Deus, e no serviço da igreja, corpo de Cristo. É um ministério chamado por Deus por causa de sua igreja, ‘para preparar o povo de Deus para o serviço cristão, a fim de construir o corpo de Cristo’ (Ef 4.13)” ( O Ministério Cristão – Guia de Estudos – ASTE, p.18).
Dentre os três ministérios ordenados, esse trabalho terá o humilde papel de refletir sobre o Diaconato, pois a Igreja, o mundo e humanidade têm a necessidade de pessoas que sintam-se chamadas para esse ministério em caráter permanente. Deve-se trazer à memória que esta Ordem (a diaconal) exerce as funções de servir aos pobres, desvalidos, doentes e solitários, como se fazendo ao próprio Cristo, ao bispo/a e presbítero/a, ler o Evangelho nas celebrações eucarísticas, servir as mesas, batizar e “exercer qualquer outro ofício sob o cuidado e orientação do/a bispo/a ou presbitério/a” (LOC – 1950 .p.533).


Para efetuarmos a tarefa reflexiva, dividiremos este trabalho da seguinte maneira:
- Todos/as os/as são chamados a servir: Este tópico procuraremos demonstrar que todas as pessoas que receberam o santo batismo são chamadas por Deus e sua Igreja para aplicar seus dons em forma de ministérios em prol de toda a Igreja, humanidade e mundo.
- A Igreja ordena alguns membros para o Santo Ministério: Nessa parte, procuraremos lembrar que todos os batizados são vocacionados, porém alguns membros são ordenados com imposição de mãos
- As ordens reconhecidas pela IEAB: Nesse item demonstraremos quais são as ordens reconhecidas pela IEAB, a saber: Bispo/a, Presbítero/a e Diácono/a;
- O diaconato no Atos dos Apóstolos: Trabalharemos o capítulo sexto dos Atos dos Apóstolos e a disputa entre os de fala grega e aramaica, porque as viúvas dos primeiros não eram atendidas em suas necessidades e assim a Assembléia Geral reunida escolheu sete homens para servir as mesas.
- Quais as funções e deveres do Diácono/a Permanente: A partir da Didaqué e do Rito Anglicano para a Ordenação ao Diaconato tentaremos pensar quais são as funções e deveres do diácono;
- Quais os ministérios específicos que o Diácono Permanente pode desenvolver: Nesse item procuraremos elencar quais são os ministérios específicos que o diácono/a pode desenvolver.
Procuramos embasar a maior parte de nossa pesquisa, em referências bibliográficas anglicanas e ecumênicas, assim como em autores anglicanos.


Todos os batizados são chamados a servir (exercer ministérios)
Todas as pessoas que receberam o Santo Batismo são chamadas a servir ao próximo com seus dons e tem a oportunidade de se colocar a serviço da Santa Igreja para exercer ministérios. Leandro Antunes Campos, clérigo anglicano na cidade de Santos – SP, em sua Monografia de conclusão do curso de teologia: Ministério do/a Diácono/a : “Na perspectiva do ordinal do Livro de Oração Comum”, citando o Relatório de Virgínia, afirma:


A todos aqueles que são batizados na vida de Deus e buscam viver em suas vidas o chamado como membros da Comunhão Anglicana é dado o carisma do Espírito Santo para a vida em comunhão e para o serviço dos outros. A vocação do povo Laos, é exercitada em um amplo contexto de vida social e pública na sociedade civil, no trabalho, no lazer dentro da família, assim como dentro da vida da comunidade da Igreja. Em virtude do batismo, todos os membros são chamados a confessar sua fé e prestar conta de sua esperança no que fazem e dizem (p.3)


A igreja ordena alguns membros para o Santo Ministério
A igreja reconhece que todos os batizados são vocacionados para o serviço (Diaconia), porém ela ordena alguns de seus membros para o ministério: em nome de Cristo, pela invocação do Espírito e imposição das mãos. É importante salientar que o chamado é para todos e todas, pois a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil ordena homens e mulheres para as Sagradas Ordens, por acreditar que Deus não faz acepção de pessoas seja relativo a sexo, etnia ou inclinação sexual. Os Cânones Gerais da IEAB atestam: “Todos os cânones que mencionarem as ordens de ministério passam a incluir homens e mulheres” (Capítulo V, Cânon 2, artigo 1º, Cânones Gerais - 2000).


As ordens reconhecidas pela IAEB


O Novo Testamento não descreve uma única forma de ministério que deveria servir como norma duradoura para todo o ministério futuro da Igreja, pois no Novo Testamento aparece uma variedade de formas que existiam em diferentes lugares e tempos, porém durante os séculos II e III a igreja estabeleceu o tríplice ministério ordenado, do quais a IEAB aceita em seu seio: O Bispo, o Presbítero e o Diácono/a, cada um desempenhando uma função fundamental para que a comunidade de fé responda ao chamado de Cristo: O Relatório de Virgínia apresenta para os papéis desempenhados por cada um deles


O chamado de um bispo é para representar Cristo e a sua Igreja, especialmente como apóstolo, sacerdote líder, professor e pastor de uma diocese, para guardar a fé, unidade e disciplina de toda a Igreja, para proclamar a palavra de Deus, agir em nome de Cristo para a reconciliação do mundo e a construção da igreja e ordenar outros para continuar o ministério de Cristo.


O chamado de um sacerdote ou presbítero é para representar Cristo e sua Igreja, especialmente como pastor para o povo, compartilhar com os bispos a supervisão da Igreja, proclamar o Evangelho, ministrar os sacramentos e abençoar e declarar perdão em nome de Deus.
O chamado de um Diácono/a é para representar Cristo e sua Igreja, especialmente como servo daqueles que necessitam, ajudar bispos e sacerdotes na proclamação do Evangelho e no ministérios dos sacramentos. (p.18)


O Relatório de Virgínia ainda afirma que o ministério ordenado é exercido com, em e entre todo o povo de Deus (p.18). É importante lembrar que os ministros ordenados são servos/as entre os/as servos/as.
Diaconato Permanente


Nesse trabalho queremos ressaltar o papel específico do diaconato permanente, pois há necessidade de pessoas que desejem servir a Santa Igreja, a sociedade civil, os doentes e desfavorecidos como Diácono/as permanentes.


Muitas vezes, o diaconato tem sido visto simplesmente como um trampolim para o presbiterato, o que descaracteriza o papel do Diácono/a, visto que há uma carência de pessoas com esse perfil para servir o mundo em amor caridoso, misericórdia e assim apresentar um Deus que realmente preocupa-se e age em prol do ser humano.
O diaconato nasceu porque os necessitados, nesse caso viúvas, estavam sendo esquecidas no atendimento diário (na distribuição diária de dinheiro - NTLH).


O diaconato no Atos dos Apóstolos


O capítulo sexto de Atos dos Apóstolos é palco de uma disputa que se desenvolveu na Igreja de Jerusalém entre os cristãos de origem grega e os de origem hebraica. Os primeiros queixavam-se que as viúvas de seu grupo estavam sendo esquecidas no atendimento diário e não supridas em suas necessidades, porém a controvérsia pode ser maior do que aparenta.


Segundo Leandro Campos
(…) parece tratar de um simples problema social, os recursos não estavam sendo distribuídos de maneira justa. Mais profundamente, é possível que se veja nessa história que algo mais importante do que um almoço grátis, está em questão. A estas refeições eram incluídas algumas leituras e ensinamentos, portanto, a conversão era crucial para as viúvas de fala grega.


Diante do problema de organização interna, os Doze convocam uma assembléia geral para examinar a questão e chegar a uma decisão plausível e tornar suficiente a partilha dos bens em favor das viúvas. Os apóstolos estavam apreensivos, porque perceberam que a sua prioridade era ministério da Palavra, ou seja, deviam viajar, pregar e batizar para que o amor de Deus, expresso em Jesus Cristo chegasse ao maior número de pessoas.


Para resolver o conflito, a Assembléia Geral escolheu sete homens “de boa fama, repletos do Espírito Santo e de Sabedoria” (At 6.3). Estes sete primeiros diáconos tinham a função de “servir às mesas” ou seja atender as necessidades daquelas viúvas. O que segundo Leandro A. Campos “podia muito bem significar não apenas a refeição, mas também o anúncio das boas novas, da palavra que era pregada nas reuniões públicas, da partilha na oração e no entendimento da fé” . Os textos de Atos dizem que Estevão, o primeiro mártir cristão, pregava “fazia grandes prodígios e sinais entre o povo” (At 6.8) e Filipe explicou as Escrituras para o Eunuco e logo depois o batizou.


É fundamental lembrar que Diácono vem da palavra grega Diakonos, que significa um servo ou ajudante, o que se aplica ao Diácono/a ordenado pela Santa Igreja com imposição das mãos, pois ele tem inerente a si a função de auxiliar o bispo ou presbítero e servir ao mundo com seu ministério.


Quais as funções e deveres do Diácono/a permanente
A Didaqué, texto compilado entre os anos 90-100, na Síria, na Palestina ou em Antioquia, estabelece algumas diretrizes para a escolha do bispo e diácono: “escolhei-vos, pois, bispos e diáconos dignos do Senhor, homens dóceis, desprendidos, verazes e firmes, pois eles também exercerão entre vós a liturgia dos profetas e doutores”


Encontramos no Rito Anglicano para a Ordenação ao Diaconato, as funções e deveres do Diácono/a, os quais ele/a se comprometem, diante de Deus e da congregação presente, a cumprir. Com o rito de ordenação e a imposição das mãos do bispo e a invocação trinitária, o Diácono/a recebe a bênção de Deus, da Igreja e comunidade para exercer seu ofício.
A parte do Exame Canônico para a ordenação ao Diaconato onde o bispo/a interroga o ordinando discursa:


Bispo N., todo cristão/cristã é chamado/a a seguir a Jesus Cristo, servindo a Deus, o Pai, mediante o poder do Espírito Santo, Deus agora te chama para um ministério especial de serviço, sob a orientação do te Bispo. Em nome de Jesus, deves servir a todos, particularmente os pobres, os fracos, os doentes e os solitários. Como Diácono/a na Igreja, deves estudar as Santas Escrituras, buscando nelas inspiração e orientação para a tua vida. Deves tornar conhecido o amor redentor de Cristo, por tua palavra e exemplo, entre aqueles com quem convives, trabalhas e adoras. Deves interpretar à Igreja as necessidades, preocupações e esperanças do mundo. Hás de colaborar com o Bispo e os presbíteros na adoração pública e na ministração da Palavra de Deus e dos sacramentos e exercerás outras funções a ti atribuídas, de tempos em tempos. Constantemente tua vida e ensino demonstrarão ao povo de Cristo que, em servindo aos desamparados, estás servindo ao próprio Cristo.
N., crês que estás sendo verdadeiramente chamado por Deus e sua Igreja a viver a vida e a obra de um Diácono/a?
Ordinando/a: Nesta persuasão estou.
Bispo: Agora, na presença da Igreja, te comprometes a cumprir com este dever e responsabilidade?
Ordinando/a: Sim, eu me comprometo
Bispo: Respeitarás e serás guiado pela orientação pastoral de teu Bispo?
Ordinando/a: Assim o farei, ajudando-me o Senhor.
Bispo: Serás assíduo na oração, na leitura e no estudo das Sagradas Escrituras?
Ordinando/a: Assim o farei, ajudando-me o Senhor.
Bispo: Procurarás sentir a presença de Cristo nos outros, dispondo-te a ajudar e servir aos necessitados?
Ordinando/a: Assim o farei, com a ajuda de Deus
Bispo: Procurarás, da melhor forma possível, moldar a tua vida e a de tua família de acordo com os ensinamentos de Cristo, de modo que sejas um exemplo salutar para o povo de Deus?
Ordinando/a: Assim procurarei, ajudando-me o Senhor.
Bispo: Procurarás, em tudo, não a tua glória, mas a glória do Senhor Jesus Cristo?
Ordinando/a: Assim o farei, com o auxílio de Deus.
Bispo: Que o Senhor, pela sua graça, te sustente no serviço que Ele te confia.
Ordinando/a: Amém.


O Exame Canônico para a Ordenação ao Diaconato demonstra as funções, deveres e atributos do ordenando ao diaconato: Servidor ao desamparado e fraco, submisso ao Bispo e Presbítero/a, assíduo na oração e estudioso das Sagradas Escrituras, assim ele deve:
Servir com sua vida a Santíssima Trindade;
Ser orientado pelo Bispo;
Servir a todos, particularmente os pobres, os fracos, os doentes e os solitários;
Estudar as Sagradas Escrituras para buscar orientação e inspiração para sua vida;
Pregar a Palavra de Deus, tornando conhecido o amor redentor de Cristo, por palavra e exemplo;
Colaborar com o bispo e os presbíteros na adoração pública, ministração da Palavra de Deus e Sacramentos;
Exercer outras funções que porventura possam ser atribuídas;
Servir aos desamparados como ao próprio Cristo.
Moldar a própria vida e da família de acordo com os ensinamentos de Cristo.
O Bispo e o Presbítero não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo e nem agir em todos os segmentos, tornando assim o papel do diaconato permanente fundamental para o bom andamento da comunidade de fé.
Quais os ministérios específicos que o Diácono Permanente pode desenvolver
Em uma sociedade opressora, a Igreja é chamada a ser testemunho de Cristo que está entre nós como quem serve. É nesse contexto que o Diácono/a Ordenado Permanente pode exercer seu ministério de servir a todos, particularmente os pobres, os fracos, os doentes e os solitários, pois
Los diaconos representan en el seno de la Iglesia su vocácion de servidora en el mundo. Sosteniendo en nombre de Cristo un combate entre las innumerables necessidades de la sociedade y de las personas, los diáconos dan ejemplo de la interdependencia del culto y y del servicio en la vida de la Iglesia. Ejercen una responsabilidad en el culto de la comunidade. (Bautismo, Eucaristia, Ministério)
É importante ressaltar que os ministérios desenvolvidos surgem em respostas às necessidades locais e históricas do qual o Diácono/a está inserido. A Partilha teológica nº 7 sobre O Ministério do Diaconato, realizado em Brasília – DF em maio de 1998 afirma que os ministérios diaconais surgiram em resposta às necessidades específicas de nossas sociedades e que são frequentemente expressões de realidades particulares históricas e culturas. Enquanto liamos esse trecho passava por nossa mente: Quais os ministérios específicos, conforme a necessidade, o Diácono/a permanente pode desenvolver dentro de nosso contexto histórico, além daqueles já previstos: o de ser um auxiliar do Bispo ou Presbitérios/as e cumprir suas funções litúrgicas, como por exemplo: ler as Escrituras, batizar, pregar e distribuir os elementos da Eucaristia?


Procuramos logo a seguir elencar alguns deles, mas tendo consciência que não são definitivos, porque, segundo a necessidade local e histórica, podem surgir outros:
- Ministério junto aos Sofredores de Rua: Esse é um ministério do Diácono/a Permanente que reside nas cidades, pois num mundo excludente centenas de pessoas, por motivos variados acabam por encontrar nas ruas sua morada. A ação se faz necessária para levar conforto espiritual e material para aqueles que estão sem um teto para morar.
- Ministério da Educação: Em um país onde ainda há analfabetos e crianças com dificuldades de leitura e interpretação de textos e portanto excluídos, a atuação do Diácono/a Permanente pode ser primordial para diminuir esses índices com programas de alfabetização e reforço escolar.
- Ministério junto às mulheres vítimas de violência: Em nossa sociedade dezenas de mulheres são vítimas de violência. A maioria dos casos são maridos que espancam suas mulheres, outras vezes patrões que assediam suas empregadas. A atuação da Igreja através do Diácono/a Permanente é fundamental, pois ele/a pode atuar levando conforto espiritual e psicológico, além de orientar essas mulheres quanto aos seus direitos legais.


Ministério junto aos encarcerados: O Sistema Penitenciário Brasileiro é um depósito humano que deveria ter a função de recuperar seus presos, mas não o faz. Há cadeias superlotadas, com condições subumanas de vida e verdadeiras “escolas do crime”. A atuação do Diácono/a Permanente pode ser no sentido levar conforto espiritual, psicológico e encaminhamento legal.
Além desses, a ação da Igreja é necessária em defesa do meio ambiente, da criança e adolescente, dos animais, etc.
A partilha nº 07 sobre o Ministério Diaconal nos alerta sobre questões fundamentais quanto a atuação da Igreja na diaconia social e política:
1ª - A Igreja não está suplementando deficiências do Estado, mas sim atuando como proclamadora do Reino de Deus mediante gestos significativos, gestos expressivos do carinho de Deus que ampara e reconstrói pessoas e julga o pecado do mundo. Exatamente como fez Jesus em sua atuação em favor do enfermos, marginalizados, dos empobrecidos e dos abatidos e por esses sinais anuncia-se de maneira palpável um novo mundo possível. São sinais proféticos. A diaconia do Reino é essencialmente profética. Ao agir em prol dessas pessoas em nome de Jesus, a Igreja ajuda a fazer a passagem da escravidão à liberdade, da alienação à humanização; e assim já está sendo agente portadora da boa-nova que restaura e transforma.
2ª - Há um perigo a ser reconhecido no sentido de que tais ministérios podem tornar-se locais onde grupos marginalizados podem ser isolados e confinados. Os ministérios diaconais com um foco específico não devem ser estruturados de modo que reforce estereótipos opressivos. A ação diaconal, que anteriormente está identificado com um grupo deve estar abertos para outros. Por exemplo, as formas de atuação consideradas apropriadas as mulheres podem ser adequadas também para os homens, que porventura sofram situações de violência.
conclusão
No corpo desse trabalho afirmamos que a igreja existe para servir a Deus, a humanidade e ao mundo. Faz parte da própria identidade da Igreja exercer diaconia. Eu vim para servir disse Jesus (Mt 20.28), ou ainda, eu estou entre vocês como aquele que serve (Lc 22.27). Os cristãos e cristãs são servos uns dos outros e de todos o encontrados pelo caminho. É interessante que os próprios discípulos têm dificuldade para entender que o maior é aquele que serve. Ao vocacionar seu povo para o serviço diaconal, Deus quer que sua Igreja cresça e se desenvolva em amor.
Mesmo reconhecendo que todos e todas são chamados a servir a Deus e ao próximo, a igreja ordena alguns de seus membros para o Santo Ministério em nome de Cristo, pela invocação do Espírito Santo e imposição das mãos. Lemos em Efésios que “Deus escolheu alguns para serem apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e ainda outros para pastores e mestres… a fim de construir o corpo de Cristo (Ef 4.11-12).
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil reconhece o tríplice ministério ordenado: O/A Bispo/a, o/a presbítero/a e o/a diácono/a. Cada um exercendo uma função, para que a Igreja seja verdadeiramente diaconal, porém, é fundamental trazer a mente que todos eles/as são diáconos/as e servem a Deus e ao próximo.
Dentre os ministérios ordenados, o papel do diácono é o que mais recorda a vocação da Igreja servidora. A Partilha de nº 07 afirma que:
na prática da Igreja antiga, diáconos e diaconisas são encarregados, em nome da Igreja, de prestar socorro aos pobres e abandonados, de levar-lhes o consolo da Igreja como resposta a suas necessidades, e de trazer para o interior da Igreja o lamento dos pobres, para despertar sua consciência e ação”
É no contexto de uma sociedade opressora que a ação do diácono se faz necessária, pois além de servir aos bispos e presbíteros, às mesas, batizar, pregar… ele/a deve servir ao mundo e a humanidade, como se servisse ao próprio Cristo (Mt 25.35-40). Em seu trajeto encontrará os pobres, desamparados, solitários, oprimidos. O diácono/a deve ser visto como aquele/a que tem um ministério junto aos que sofrem os atos de uma sociedade injusta, cruel, que necessita da presença renovadora da Igreja, esta é luz (indica a direção) e sal (dá sabor, sentido para a vida).
O Rev. Leandro lembra que:
O Diácono é um símbolo vivo para a igreja e o mundo. A ordem diaconal é a presença do próprio Jesus que veio entre nós para servir e não para ser servido.
Outro ponto importante é que o diaconato não pode ser visto como um simples trampolim para o presbiterato, mas como ministério específico, o servidor das mesas, por essa razão, a Igreja tem a necessidade de pessoas que sintam-se chamadas para o diaconato permanente, e exerçam seu ministério junto aos sofredores de rua, mulheres vítimas de violência, encarcerados e na defesa do meio ambiente, da criança e adolescente, dos animais, etc. A diversidade de necessidades são imensas.
Seja qual for o campo de sua ação, o diácono permanente deve “compreender que a humanidade inteira vive escravizada e que a finalidade da ação de Deus em Cristo é libertá-las dessas cadeias” (O Ministério Cristão – ASTE .p.21).
Há uma necessidade do reavivamento da figura e papel do diácono. Por essa razão:
Nossa diocese e Província é chamada a retomar com todo o vigor a discussão sobre o Ministério do Diaconato (…).
Escolas Diaconais Diocesanas, encontros diocesanos/provinciais regulares dos Diáconos/as, e o reconhecimento dos diversos ministérios diaconais ordenados e não ordenados, mas presentes na igreja que a enriquecem tornando-a uma Presença Libertadora na sociedade e no mundo – à imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo. (CAMPOS, Leandro Antunes, Ministério do/a Diácono/a na Perspectiva do Livro de Oração Comum).


referências bibliográficas


BAUTISMO, EUCARISTIA, MINISTÉRIO, Convergencias doctrinales en el seno del Consejo Ecuménico de las Iglesias, Ediciones de La Facultad de Teologia de Barcelona,s/d.


CAMPOS, Leandro Antunes, Ministério do/a Diácono/a na Perspectiva do Livro de Oração Comum, Monografia, UMESP, 2007.


CÂNONES GERAIS DA IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, 2000.


DIDAQUÉ, Catecismo dos Primeiros Cristãos, 4ª Ed. VOZES, Petropólis, 1983


DIACONATO NO BRASIL, Teologia e Orientações pastorais, Estudos da CNBB, Edições Paulinas,1988


IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL, Livro de Oração Comum: Porto Alegre, 1950.


O MINISTÉRIO CRISTÃO, Guia de Estudos, ASTE, São Paulo, 1979.


O MINISTÉRIO DO DIACONATO, IEAB, Centro de Estudos Anglicanos, Partilha Teológica nº 07, Brasília, 1998.


RELATÓRIO DE VIRGÍNIA, Comissão Inter-Anglicana de Teologia e Doutrina, Igreja Episcopal do Brasil.


TRIANA, Pedro, Missão, Evangelização e diakonia, Palestra apresentada na Jornada teológica do IAET, 11-13 de julho de 2008. Casa Provincial La Salle. Site do CEA.


UM SÓ BAPTISMO, UMA SÓ EUCARISTIA E UM SÓ MINISTÉRIO RECONHECIDOS, Documento da Comissão de Fé e Ordem do Conselho Mundial de Igrejas, Documento nº 73, Genebra – Suiça, 1975

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