sexta-feira, 20 de maio de 2011

SACRAMENTO: O AMOR MANISFESTO DE DEUS

POR ITABIRA JONAS



SUMÁRIO

Resumo 4


Sinais e Símbolos 5


Espiritualidade cristã celta: Tudo é Sacramento 8


Bibliografia 11

RESUMO

Este trabalho é uma reflexão sobre a plenitude do amor de Deus para com a humanidade manifestado na criação e prática espiritual dos cristãos Celtas.


Desde o principio Deus tem demonstrado fidelidade para com o seu povo e, na plenitude dos tempos a confirmou e manifestou com a encarnação do Verbo.


Diz a Bíblia: “Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3: 16). Jesus é, portanto, a mais completa manifestação do amor de Deus. Nele está contida toda essência de Deus. Ele é sinal concreto e visível do Deus invisível. Cristo, encarnado no seio de Maria é imagem real do transcendente, que vive e se revela na criação. O prefácio da Oração Eucarística Rito II, do Livro de Oração Comum, reza:


“Damos-te graças, ó bendito Deus, que nos mostrastes bondade e amor na Criação, na chamada de Israel para ser teu povo, na Palavra que disseste por meio dos profetas, e, acima de tudo no Verbo feito carne, teu Filho, Jesus. (LOC. p 76)


Cristo é o canal de graça e por ele o cristão alcança Deus e com Ele faz comunhão. No exercício do seu ministério Jesus realiza a graça de Deus, contida nos sacramentos.


A Igreja Anglicana é sacramental, ela proclama a fé nos sacramentos instituídos por Cristo e celebra a obra que deles emana. A Igreja como sacramento de Cristo é comunidade dos cristãos e depositária da Boa Nova.


Ao proclamar o Evangelho, a Igreja revela o amor de Deus pela humanidade.

I - SINAIS E SÍMBOLOS

O homem é ser em comunicação. Ele está em constante comunicação consigo mesmo para se construir, em comunicação com os outros para se relacionar e trocar conhecimento, e com Deus para reverenciá-lo e adorá-lo. A comunicação é vital para os seres humanos e a criação comunica a obra de Deus.

Há um clichê tão velho quanto o primeiro aprendiz de sociólogo: o homem é um animal social. Entre outras coisas, isso significa reconhecimento implícito de sua necessidade de comunicação, que é o meio como ele transmite suas mensagens. (TÈCNICA DE JORNAL E PERIODICO, P. 11)

Ciente da necessidade de relacionar-se o homem buscou comunicar-se, aprendendo a ler os sinais e criando símbolos que expressassem idéias e sentimentos para manifestar necessidades físicas, intelectuais e emocionais.


Quanto aos sinais e símbolos como instrumentos de comunicação, há de se levar em consideração a distinção que existe entre eles. Os símbolos são sinais produzidos pelo homem para facilitar a comunicação e conseqüentemente a vida.

É impreciso o momento em que o ser humano começou a criar mecanismos de comunicação e utilizar uma simbologia carregada de significação para interagir com seus semelhantes. É possível que o homem pré-histórico tenha iniciado o processo de comunicação dando respostas instintivas a partir de ruídos vocais (imitando sons da natureza) e movimentos corpóreos, que serviam de emissão de mensagens simples (exteriorizando frio, medo, fome ou alegria. (AS TEORIAS DA COMUNICAÇÃO, P. 16)

Quanto à simbologia da comunicação, tomemos como exemplos, os sinais de trânsito, as letras do alfabeto, as notas musicais, os cumprimentos, as bandeiras, os escudos e todos os símbolos que apontam para uma comunicação convencional.


Todo símbolo é carregado de significado. Os símbolos representativos, produzidos pelo homem, são mensagens criadas a partir de convenções, para suprir uma necessidade de comunicação.


Ademais dos símbolos criados pelo homem, existem sinais naturais, são indicadores da natureza que nos comunicam mensagens, que favorecem a compreensão da vida, num determinado momento. Por exemplo: uma nuvem negra e carregada é sinal iminente de chuva; fumaça, sinal de fogo; marcas de pés, sinal da presença de alguém.


Se o homem carece de sinais e símbolos para se comunicar uma realidade imanente, muito mais necessitará para comunicar uma experiência transcendente. Portanto, os sinais e os símbolos são fundamentais para a facilitação e favorecimento comunicativo da vida como obra perfeita e suficiente de Deus. Através dos símbolos e dos sinais, Deus se comunica com seu povo e este com o seu criador.


Ao se comunicar através dos sacramentos Deus se revela ao seu povo, se faz íntimo e se torna como um de nós. (Jo 1: 1-14). Envolta no mistério, na encarnação do verbo está a revelação do amor de Deus pela humanidade.

Toda vez que uma realidade do mundo, sem deixar o mundo, evoca uma outra realidade diferente dela, ela assume uma função sacramental. Deixa de ser coisa para ser sinal ou um símbolo. Todo sinal é sinal de alguma coisa ou de algum valor para alguém. Como coisa pode ser absolutamente irrelevante. Como sinal pode ganhar valorização inestimável e preciosa. (...) (OS SACRAMENTOS DA VIDA E A VIDA DOS SACRAMENTOS P. 23)

Os sacramentos são como “fotografias”, uma vez que revelam através da imagem uma realidade interior e maior do que aquela refletida. Nesse sentido a matéria estática elucida uma vida eternizada pela impressão, é marca. Nos sacramentos os sinais e símbolos, por sua vez imprimem através de gestos, matéria e intenção a interioridade da vida graciosa que está em Deus.


Nessa dimensão, segundo Leonardo Boff, tudo é sacramento, porque tudo comunica, interage e revela o homem “fotograficamente”. Tudo é corpo e alma. Toda matéria transcende a si mesma, revelando sua vocação para o alto.

Tudo revela o homem, suas experiências bem ou mal sucedidas, enfim, o encontro dele com a multiplicidade das manifestações do mundo. Nesse encontro o homem não aborda o mundo de forma neutra. Ele julga. Descobre valores, interpreta. Abre ou se fecha às evocações que lhe advém. O convívio com o mundo faz com que ele crie sua morada. (OS SACRAMENTOS DA VIDA E A VIDA DOS SACRAMENTOS P. 23)

Como refletido até aqui, se os sinais e símbolos são necessários para a comunicação entre os homens, e destes com o mundo, uma vez que o homem é um animal social, interdependente, muito mais eles serão na comunicação com o transcendente, com Deus. Os sinais e os símbolos são fundamentais porque facilitam a comunicação da vida que está em Deus e a graça que ele quer dar.

Mesmo supondo que o mundo seja feito de alguma matéria informe, essa matéria foi tirada totalmente do nada. Pois, mesmo o que ainda não está formado: sem dúvida alguma, de algum modo já tem iniciada a sua formação. Ser susceptível de forma (capacitas formae) é benefício do seu Autor, e possuí-la é bem. A simples capacidade de forma é pois, certo bem. Por conseguinte, o autor de todas as formas – que é doador de toda forma – também o fundamento da possibilidade de algo a ser formado. E assim, tudo o que é, enquanto é, tudo o que não é, enquanto pode vir a ser, tem de Deus, sua forma ou possibilidade a ser formado.


Dito de outro modo: Todo ser formado, enquanto formado, e todo o que ainda não está formado, enquanto formável, encontra em Deus seu fundamento. (A VERDADEIRA RELIGIÃO P. 68)

A criação é em seu todo sinal da vida que está em Deus. Como na representação de um quadro que está implícita a vida do artista que o criou: ver o quadro é ver o artista. A obra da criação revela a vida que está em Deus e é refletida na vida dos homens. Portanto, toda a criação foi, é e será sacramental.

II - ESPIRITUALIDADE CRISTÃ CELTA: TUDO É SACRAMENTO

Tudo o que sabemos a respeito de Deus, nos foi revelado pela Encarnação do Verbo. A face plena de Deus está em Jesus, como sacramento, sinal real e íntegro daquilo que Deus é. Jesus não é em parte Deus, nem em parte homem. Jesus é plenamente homem e plenamente Deus. Jesus é protótipo de toda a criação e explicitamente do homem. É por ele que Deus tudo criou, assim como aos seres humanos. Jesus estava presente no momento da concepção da “raça humana”, conforme atestam as sagradas escrituras: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. (GN 1: 26a)


O texto do livro do Gênesis escrito em primeira pessoa do plural (façamos) é revelador da natureza de Deus. É dessa natureza vocacional e final que o homem é criado. Deus é em si por si mesmo uma comunidade perfeita de onde emana a Trindade Santa: o Deus criador, o Deus redentor e o Deus santificador.


Na plenitude da criação e da humanidade está Jesus Cristo que soube acolher, enquanto homem, a dignidade plena de Filho de Deus. Nele a imagem de Deus é fiel e translúcida. Todo bem que nasce do exercício da adoração e do louvor, em Cristo ele se realiza. A igreja Anglicana que têm raízes na experiência espiritual celta entende e vive a espiritualidade cristã inclusiva a partir da adoração e louvor a Deus presente na natureza:


O cristianismo conhecido como “celta” floresceu na Irlanda, na Escócia, no País de Gales e mesmo em partes da Inglaterra, grosso modo, do quarto ao décimo séculos. São conhecidos os nomes de missionários celtas como Patrício, Columba e Columbano, que evangelizaram o norte das Ilhas Britânicas e vastas partes do continente europeu. Mas o cristianismo celta floresceu, humanamente falando, não apenas devido ao trabalho dos missionários mais conhecidos, mas também devido ao esforço de incontáveis anônimos, pessoas sinceras em sua fé, que viviam o cristianismo com “alegria e singeleza de coração”. Foi um cristianismo que desenvolveu características próprias, que o tornavam distinto do cristianismo de inspiração romana que florescia na Europa continental no mesmo período. O cristianismo celta tinha muitas características notáveis. Entre tantas, destaca-se aqui apenas a que interessa diretamente aos propósitos desta breve reflexão: um modelo de espiritualidade centrado na criação.


Os celtas desenvolveram uma teologia que enfatizava uma visão de Deus como Senhor da criação. Ainda que não haja nada de original nesta perspectiva — os cristãos celtas não foram os inventores desta teologia —, não se pode deixar de mencionar que há diversas implicações práticas dessa visão. Uma dessas conseqüências é exatamente ter uma atitude constante de júbilo e regozijo na criação, que revela Deus. Como os celtas eram um povo com forte inclinação à poesia, produziram muitas poesias comoventes, louvando a Deus pela obra da criação. Um poema datado do século nono, escrito na antiga língua do País de Gales, tem início com as seguintes palavras:

Todo Poderoso Criador, que fizeste todas as coisas;
O mundo não pode expressar toda a tua glória,
Ainda que a grama e as árvores possam cantar.

Outro poema escrito no século oitavo, na antiga língua irlandesa, declara:
Somente um tolo não seria capaz de louvar a Deus pelo seu poder,
Quando as pequeninas aves incapazes de pensar
O louvam com seu vôo.

Estes versos expressam o lugar de destaque que a natureza ocupava na maneira como os cristãos celtas antigos viam a vida e pensavam sua relação com Deus. A visão da criação como reveladora de Deus está profundamente enraizada na Bíblia. Os fragmentos poéticos citados revelam influência de textos bíblicos como Salmos 98.7-8 ou Isaías 55.12. De fato, muito da poesia e das orações daqueles cristãos denotam influência da visão bíblica a respeito da natureza. Textos como o de Salmos eram particularmente queridos pelos cristãos celtas. Para eles, o mundo criado é uma teofania, isto é, uma manifestação de Deus. (Fonte: http://elteque.multiply.com/journal/item/13)


Em Jesus, Deus revela sua imagem e semelhança. Através de Jesus temos todo o conhecimento e desejo de Deus. Desejamos a Deus a quem não vemos e o glorificamos e adoramos em sua obra.


Jesus é a obra prima de Deus e o ponto de convergência entre o humano-criação e o divino-criador. Nele habita a criatura que trabalha e busca Deus, fonte da vida e o Criador que busca o homem para redimi-lo.


Jesus é sacramento de Deus, porque ele realiza todo o projeto metafísico do Pai. Jesus, sacramento de Deus, proclama a dimensão ética do homem. Em Jesus Cristo, Deus manifesta seu amor.

BIBLIOGRAFIA

Agostinho, Santo. A Verdadeira Religião. São Paulo: Paulinas: 1987
Amaral, Luiz. Técnica de Jornal e Periódico. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro: 2001
Bíblia Sagrada
Boff, Leonardo. Os Sacramentos da Vida e a Vida dos Sacramentos. Editora Vozes: 2009
LOC. Livro de Oração Comum
Santos, Roberto Elísio dos. As Teorias da Comunicação. São Paulo. Paulinas: 2003

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